O segredo

Florinda casou-se a alguns instantes e já estava eufórica para a sua viagem de lua de mel, que faria daqui a algumas horas. Ediberto seu noivo, se divertia regado a cerveja e seu pagode preferido, que saia da caixa de som.

Entre fotos e abraços sujava cada vez mais a cauda de seu vestido longo e branco, perdido nas rendas, que um dia sonhara para este dia tão especial. Com o nó já frouxo de sua gravata, o noivo ria das piadas contadas pelos amigos, na rodada que seguia noite adentro e não parecia que Ediberto estivesse sonhando com a viagem ao nordeste baiano, terra de sua gente.

Os convidados, que não foram à cerimônia, não terminavam de chegar ao salão de festas, inclusive Maria Antônia, uma confidente de Florinda que no meio da festa adentrou ao salão, seu olhar não se cansou de procurar a noiva, até que a avistou e correu ao seu encontro.

O noivo era preparado pelos amigos para o momento esperado, o tradicional corte da gravata. Soma tão esperada que ajudaria no custeio dos dias que passariam, na pequena cidade natal do baiano, que ali continuava a se divertir como sempre se divertia, na sua pacata vida de vigia de um supermercado.

Durante seus dois anos de namoro e noivado, Florinda não se deixou levar pela fraqueza da carne, sempre seguiu rigidamente a tradição da família, que sonha em levar a noiva para o altar e casar de véu e grinalda, corretamente.

Maria Antônia, agora de frente para a noiva, nem mal cumprimentou Florinda, pelo seu casamento, foi logo cochichando no ouvido da noiva, com um ar de fofoca, segredo guardado há tempos, a espera do momento certo para soltar a bomba. Florinda num gesto de surpresa, colocou as duas mãos na boca aberta, afirmando ainda mais a inesperada bomba que a amiga confidente fuxicou em seu ouvido.

Nesta altura da festa, Ediberto já garantia um bom trocado para a tão sonhada lua de mel, que esperou, embora não demonstrasse estar com pressa. Ele conhecera Florinda no cemitério da cidade quando levava ela ao tumulo ali esquecido, meses antes do início do namoro.

Quando Ediberto olhou para Florinda, naquela cena olhando para ele, ele sentiu em seu gesto de desespero e podia imaginar que não era um simples gesto, ele parecia saber do que se tratava pois ficou paralisado como se um segredo havia acabado de ser descoberto.

Florinda voltou-se para o local onde Ediberto estava e saiu ao seu encontro, já em meio ao choro, ao nervosismo e ao desespero. Ediberto repentinamente acorda de seu pesadelo, na véspera de seu casamento, suando frio, assustado mas com a certeza e a garantia que seu segredo ainda ficaria guardado, por mais algum tempo, com ele e com Maria Antônia, falecida pouco antes do início de seu namoro.

Conto selecionado para o “Varal do Brasil Literário, sem frescuras!” número 16” de verão de 2012

Domingos Richieri
Enviado por Domingos Richieri em 02/08/2012
Reeditado em 11/08/2012
Código do texto: T3810725
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