Maria.

Respiração acelerada, passos rápidos, olhar perdido cada hora em um canto, estômago vazio e o inseparável desconforto de quem procura o que não sabe se vai encontrar. Passou tantas vezes pelas mesmas ruas, pelos mesmos bares e sinaleiras, todas elas argumentando na sua mente algo novo, fazendo dos lugares repetidos que atravessava, um lugar diferente que acaba de conhecer.

A cidade, antes de desembarcar do ônibus e de colocar os pés nela, era como na foto que segurava nos dedos durante o longo caminho: um milhão de avenidas, todas cheias de prédios, de anúncios de empregos decentes transbordando nas vitrines e uma futura felicidade, que no céu azul limpo da foto, parecia estar guardada especialmente para ela. Agora, era apenas o cheiro horrível de poluição, o barulho das buzinas, os vultos apressados correndo aos seus destinos em baixo de sombrinhas e guarda-chuvas, os panfletos molhados dançando com o vento de calçada em calçada e os pingos gelados de chuva tamborilando no seu corpo desprotegido do frio.

Com a voz trêmula e a pressa envolvida no seu corpo, pedia por informações para as pessoas paradas nos terminais de ônibus, todas se mantinham indiferentes, dizendo que não sabiam, que não eram daqui, que perguntasse a outro.

Não conhecia o início do trajeto, não sabia quantas ruas dali estava o que ela tanto procurava, não tinha nenhum mapa em suas mãos, tampouco um lugar para comprar um. Só sabia que estava perto da rodoviária, que havia chegado, que não podia perder a mala que carregava com esforço nos braços magros e que não poderia voltar. Sem dinheiro, ela não poderia voltar. Foi então que olhou para os lados, cuidou a expressão facial dos passantes e descobriu um detalhe que a acalmara: estavam todos perdidos.

Ninguém sabia aonde ir, o porquê de ir, se deveriam mesmo ir. Ninguém tinha os caminhos decorados, os endereços escritos nas palmas das mãos nem um lugar certo para se sentir acolhido. Estavam todos perdidos, assim como eu que escrevo com pressa, assim como você que lê sem interesse. Por mais que tudo ao seu redor provasse o contrário, por mais que os telefonemas chegassem, por mais que os caminhos parecessem serem os certos: estavam todos perdidos.

Ajeitou a alça da mala no ombro, alinhou os fios molhados de seu cabelo, respirou fundo tragando uma coragem momentânea e foi. Sem destino, sem procuras, ela apenas foi.

Karoline Escouto
Enviado por Karoline Escouto em 28/07/2012
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