PARA TODO MAL HÁ CURA
Anita não acreditava nessas coisas, mas diante das evidências acabou achando que tinha mesmo levantado com o pé esquerdo e seria esse o motivo de tantos problemas terem desabado sobre ela naquele dia.
Logo de manhã a cunhada telefonou. A sua mãe, sogra de Anita, que há alguns dias tivera um Avc estava saindo do hospital e...
— Você sabe como são essas coisas. Ela sempre morou comigo e eu cuidei dela (ou será que foi cuidada por ela?), mas agora ela vai precisar de cuidados especiais e eu não tenho condição de prestá-los, você sabe como minha vida é difícil (?) não tenho muita saúde, enfim, eu pensei que ela ficaria melhor ai com vocês, afinal o Ray também é filho...
Anita ficou perplexa. Sentiu uma raiva tão grande da cunhada que se estivesse ao seu alcance a unharia, mas, ao mesmo tempo encheu-se de pena da sogra que sempre fora muito bondosa e prestativa, mas, mesmo que não o fosse, agora estava na dependência e os filhos tinham obrigação de cuidar dela.
— Tudo bem, ela pode vir para cá e eu farei o que for possível.
Mal terminou de arranjar o quarto para acomodar a sogra, o filho casado entra com a filha de dois anos no colo dizendo que estava separando da mulher e que a filha ia ficar com ele, na casa da mãe, é claro.
Aturdida, sem poder prestar muita atenção ouviu a historia da traição da nora, do fragrante e o fim do tumultuado casamento.
E agora, o quarto que fora dele estava sendo preparado para a sogra, ele teria que dormir no sofá da sala e a netinha ela acomodaria no seu quarto.
Atordoada viu-o descarregar sua bagagem, malas, livros, caixas e mais caixas de bugiganga e mais toda a parafernália da menina.
— Meu Deus! Onde vou guardar tudo isso?
O filho parte para a chantagem emocional:
— Se você acha que vamos atrapalhar... Eu posso ir para uma pensão...
— Nada disso. Você fica aqui. A gente dá um jeito.
Enquanto isso a filha adolescente está fechada no seu quarto, estudando? Ouvindo música? Ou passeando pelo face book. Orkut, ou sei lá mais o que?
Anita não tem tempo de prestar atenção nela e ela aproveita para fazer tudo que a mãe não quer.
A sogra chega, é colocada na cama e os enfermeiros que a acompanharam vão embora.
Anita sente que precisa de ajuda. Tem que contratar uma auxiliar com prática de lidar com doentes, mas como encaixar no já tão apertado orçamento mais essa despesa?
O salário do Ray estava comprometido com as despesas da casa. Ela fazia salgadinhos para ganhar um dinheiro para os extras, mas agora com a sogra e a neta para cuidar não ia ter tempo para mais nada.
Enquanto aturdida procurava encontrar uma solução para seus problemas, aparece mais um.
A nora entra chorando, arrastando o filho que chorava também.
— Mas que é isso?
— O Ney foi preso!
Anita já sabia que seu filho Ney andava envolvido com contrabando, embora negasse a pés juntos.Seu temor concretizou. Ele estava preso e a nora com o neto precisavam dela.
A cabeça de Anita já rodava a mil quando veio a última pancada do dia.
A filha de quinze anos chegou a ela e disse toda atrapalhada:
— Mamãe, eu acho que estou grávida.
Chega! Foi demais para um só dia!
Já no quarto, preparando-se para dormir o marido perguntou:
— E agora? O que vamos fazer?
— Agora vamos dormir.
— Não sei como pode ser tão calma.
— Ora, você não sabe que “Para todo mal há cura”? De um jeito ou de outro vamos resolver tudo isso. Agora vamos descansar. Boa noite!
Este texto pertence ao Exercício Criativo “PARA TODO MAL A CURA”
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