CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVIII – Cuité (PB)
 
CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVIII – Cuité (PB)
 
A despedida do Nobre
 
             
             Depois de dois anos de atividades na maravilhosa Cuité, na Paraíba, eis que é chegada a hora de o Nobre procurar novos rumos em sua carreira no banco. Não poderia ser nomeado gerente da agência, mas substituíra por um ano o subgerente Brilhante nas suas ausências – cursos vários, férias, licença prêmio – e isso em muito o ajudou. Como o banco era bom e justo antigamente...


            Havia sido nomeado subgerente de Cruzeiro no Sul (AC), e se comprometido pessoalmente com o Diretor de Pessoal de viajar logo para assumir as suas novas funções. Mandara todos os móveis para o Recife, para a casa dos sogros, pois era humanamente impossível carregar sua mudança para aquela cidade... impraticável mesmo!

            O Banco enviara o Inspetor Brito -- um sergipano de dois metros de altura -- para inspecionar todos os trabalhos da agência e em especial da Carteira Agrícola. Nobre era de uma tranquilidade total. Tinha confiança no que fizera, na mudança absoluta do setor. E não é que causou excelente impressão ao emissário da Sede!  Comunicado de sua nomeação para o Acre garantira ele, inspetor, de que ia impedir que se fizesse tamanha injustiça, de vez que o Nobre tinha condições de ser gerente. Então fizera uma carta para a Inspetoria Geral comunicando o fato, dando suas impressões amplamente favoráveis e aconselhando a que a transferência não se efetivasse. Além do mais, a cidade de Cruzeiro do Sul estava em situação de emergência com as fortes chuvas e tempestades caídas por último. Chegara ao banco um telegrama de Brasília mandando suspender o desligamento pura e simplesmente. E agora, o que fazer? Mandar trazer de volta sua mudança para Cuité, com novas despesas de transporte. Era o jeito.

            O tempo passava, Nobre continua exercendo suas atividades, vivendo sua vida como se nada tivesse ocorrido. E eis que chega uma correspondência perguntando se aceitaria a gerência de Bacabal, no Maranhão. Claro que sim, quem ia ser subgerente num lugar ainda mais distante não poderia titubear, era pegar de qualquer maneira. Deu certo, fora nomeado e veio à recomendação de desligamento imediato. Não teve dúvidas, conseguiu um caminhão e mandou todos os móveis para a cidade maranhense, confiado em que os administradores de Cuité não iriam colocar obstáculos. Pelo Brilhante tudo bem, mas o Caldeira ficou segurando até que viesse outro chefe de serviço. Pura covardia porque havia o substituto Frazão, muito bom funcionário. Com Dona Cida formava um casal exemplar.    
     

            Jesuíno, o baixinho, havia tomado posse há alguns meses. Mudara-se com sua esposa para Cuité, e fora empossado na Carteira Agrícola. Mas surgiu um grande problema na contabilidade. Os balancetes naquele tempo tinham de ser copiados num livro, devidamente rubricado pelo Juiz de Direito para que pudesse ter validade perante a Fazenda Estadual. Um calo nas mãos do Brilhante, que já pegara o “bonde” andando, mas não atentou para o problema, julgou que era somente bater e pronto. Pois bem, a agência nem sequer sabia e nem tinha o dito livro há dois anos. Os balancetes existiam, sua confecção estava atualizada, mas não podiam ser copiados porque foram elaborados sem cópia num carbono “roxo” especial para transferir num processo bem simples, molhando, para as páginas do livro. Tentou-se convencer o Juiz de que mandando encadernar os balancetes já prontos e se ele rubricasse todas as folhas, inclusive os termos de abertura e encerramento, tudo estaria resolvido. Coisa nenhuma, o jeito foi bater todos eles novamente, agora com o carbono. Jesuíno negociara com o Brilhante no sentido de fazê-lo aos sábados, domingos, feriados, à noite... E fora feito, atualizado, menos uma dor de cabeça.

            Numa ocasião o Jesuíno e esposa, dona Tonha, foram visitar o Nobre em casa, pertinho, colada ao Banco, na mesma rua onde moravam. Cada um que contasse algo de sua vida, recordações pitorescas com uma cervejinha do lado. Contara sua esposa que num determinado dia sua casa fora invadida por um ladrão, de madrugada. Notara que havia alguém forçando a porta dos fundos. Aproximou-se caladinha e deixou, como se nada estivesse acontecendo. Quando o “meliante” entrou partiu pra cima dele e foi mandando “bordoadas”. Tinha braços avantajados, era alta, o Jesuíno um cara simpático, mas nunca ousara, sequer, olhar para outra mulher... E nem era doido pra isso!

             A vida continuava normal, muito trabalho, o Expressinho ainda estava vivo. Na última partida do Nobre, realizada contra o Cuité Esporte Clube -- quando se estreou um novo padrão de camisas -- que terminou empatada de um a um, havia levado uma pancada no joelho direito, depois do lindo gol que fizera, cobrando uma falta de fora da área, que o goleiro Zezinho não vira nem por onde a bola passou. Foi ao hospital e o Dr. Medeiros mandou engessar sua perna, pois a lesão requeria descanso, repouso por trinta dias no mínimo. O gesso ia dos pés até a metade do fêmur, incomodava bastante.

          No outro dia, isto é na segunda-feira, Nobre pediu ao Medeiros que diminuísse o prazo, porque aquilo o estava incomodando. – “Pois bem, então vamos deixar por vinte dias, disse ele”. Na terça lá vai o Nobre novamente chatear o doutor – “Olha, por menos de dez dias nem falar, determinou o médico”. O fato é que na quarta-feira o gesso fora totalmente retirado pelo paciente com muito trabalho. Até hoje sente umas dores em dia de chuva.

 
Vamos parando por aqui, a fim de não cansar os leitores. No próximo, concluiremos a despedida.
Em revisão.
Ansilgus

Nota: A foto é da Universidade Federal de Cuité.
ansilgus
Enviado por ansilgus em 15/07/2012
Reeditado em 15/07/2012
Código do texto: T3778541
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