Seu Pregosa
Porto Carro é uma aldeia do distrito de Leiria, localizada nas proximidades de Marinha Grande, Portugal. Guarda como característica a homogeneidade da maioria dos municípios de Leiria, ou seja, seus habitantes são representativos da população regional, que se sente orgulhosa de sua maneira de ser. Pacatos, trabalhadores e de uma alegria sem igual.
Embora venha perdendo sua força de trabalho por escassez de oferta de emprego, principalmente entre os jovens, os que lá vêm teimando em ficar, por causa da tranquilidade do local e do baixo índice de criminalidade, gozam de saúde plena e muitos ultrapassam a idade dos 100 anos de vida.
Foi lá que conheci José Pregosa, português, aldeão legítimo, médio plantador de tomates, que lhe permite boa renda anual. Ao falar sobre sua atividade agrícola, ele parece conhecer o seu valor e explica:
- O tomate é um alimento funcional devido aos altos teores de vitaminas A e C, além de ser rico em licopeno, e comer tomate você previne o aparecimento de vários tipos de cânceres, principalmente aqueles relacionados ao aparelho digestivo.
Impressionado, quis saber mais, pois aquela pessoa simples demonstrava conhecimento além do que é comum entre os pequenos e médios agricultores. Então perguntei qual a área que ele plantava e quais as técnicas agrícolas utilizadas por ele. A resposta veio de imediato:
- Há mais de 100 anos que minha família planta tomate. Antes, sem muita técnica a produção era baixa. Hoje, com as novas cultivares e os híbridos estamos conseguindo boas colheitas. O melhoramento genético trouxe características de precocidade, alta produtividade, resistência às pragas, às doenças e adaptação ao ambiente.
Era um sábado, e percebi que ele não estava gostando de falar de trabalho. Estávamos todos sentados em frente à casa de Eduardo e Graça, os compadres, como são chamados os pais dos filhos casados, em Portugal. Formávamos uma roda e José Pregosa se sentia bastante à vontade, pois alguns dos presentes eram até parentes seus.
Entretanto notei que ele estava inquieto, pois não parava um instante em sua cadeira. Alguém percebeu também e pediu silêncio para que José Pregosa falasse. Aí descobri a razão, o homem era um exímio contador de piadas. Ele não sossegava enquanto não as contasse, que para alguns dali, já eram bastante conhecidas. Ele queria mostrar a mim e a minha esposa, aos visitantes brasileiros, sua verve humorística.
Não nos fizemos de rogados, quietos e silenciosos ficamos. Ele tomou assento em sua cadeira, bebeu um pouco de vinho, colocado à nossa disposição, pois estava um pouco frio por causa do vento que soprava, se ajeitou todo e começou a desfilar suas piadas.
Sempre se referia aos alentejanos, procurando imitar o dialeto alentejano, habitante originário da Região do Alentejo, que compreende os distritos de Portalegre, Évora e Beja, e parte dos distritos de Setúbal e Santarém. É a maior região de Portugal em extensão territorial e faz divisa com a Espanha. Para nós, brasileiros, isto não significa muita coisa, mas para os portugueses, tem sentido devido às características provincianas destes habitantes e pelo jeito jocoso como são tratados por lusitanos de outras regiões.
Sua primeira piada foi sobre um caçador de Lisboa.
Dizia um caçador lisboeta numa taberna do Alentejo:
- Hoje cacei 100 coelhos, 200 perdizes e 300 tordos.
Diz um alentejano:
- Atão vomecêa é tal e cal coma mim!
- Ah! Então o senhor também é caçador?
- Nã senhori, sou munta mentiroso...
Outra piada desfechada pelo português.
Dois alentejanos foram à caça. Um deles, olha para o ar e vê um homem a fazer asa delta. O outro saca da arma e dispara! O amigo diz:
-Ó compadre ,que pássaro era aqueli?
-Nã sê compadre,mas o sacana já largou o homem que levava!!!
Outra piada:
Manel alentejano pergunta à Maria, também alentejana:
-Ó Maria o que é que eu posso fazer para te dar mais prazer?
-Ó Manel, apaga a luz e chupa.
- Ai, está quente...
Mais outra:
Conversa entre alentejanos:
- Cumpadri, porque é que você arrancou dois dentis no mesmo dia?
- Porque o dentista não tinha troco de 10 contos.
Já esgotadas as piadas, Pregosa passou a fazer perguntas e que ele mesmo respondia, já que nenhum dos presentes estava disposto a tirar o brilho da atuação do patrício.
- Qual a melhor Universidade do mundo?
- A de Évora porque entram Alentejanos e saem Engenheiros.
- Por que é que os alentejanos costumam dormir com o relógio debaixo da cama?
- Para acordarem em cima da hora.
- Como é que os alentejanos arranjam dinheiro para comprar um vídeo?
- Vendem a Televisão.
E assim passamos o tempo naquele dia em Porto Carro, Portugal. Bebendo vinho português da região do Alentejo, beliscando as iguarias preparadas pela comadre Graça e ouvindo as piadas de José Pregosa.
Não deixamos os presentes perceberem que as piadas contadas por Pregosa são as mesmas que os brasileiros contam envolvendo os portugueses. Tampouco deixamos transparecer que estávamos achando estranho um português gozar outro português, como fazem os sulistas com os nordestinos brasileiros.