CASAMENTO NUNCA MAIS

Não me perguntem porque eu me casei com o Rodolfo. Ele nunca teve nada a ver comigo. Acho que foi em um destes momentos de surto psicótico que eu disse “sim” ao seu pedido de casamento e acabamos casando em menos de seis meses depois de havermos nos conhecido.

Antes de casar, eu já estava arrependida, mas não tinha como voltar atrás. Os convites estavam prontos, as famílias em polvorosa, a festa já paga… e eu em depressão porque meu ex-namorado que eu tanto amava tinha se separado da mulher e voltado a me procurar. E eu não podia fazer nada porque meu casamento com o Rodolfo se aproximava velozmente.

Desde o início deu tudo errado, pelo menos para mim. Na lua de mel descobri que não gostava de fazer sexo com meu próprio marido. Passei todos aqueles dez dias naquela praia maravilhosa fingindo que adorava transar com ele de manhã, de tarde, de noite. Quando eu ligava para minha mãe, mentia estar adorando tudo e que eu estava muito feliz. Aliás, quem estava feliz era o Rodolfo, sempre com um sorriso bobo grudado no rosto. Eu, em compensação, paquerei todos os caras da praia e do hotel (incluindo garçons, recepcionistas, gerentes, fiscais da piscina, recreacionistas, hóspedes, todos). Saí de lá com uma fama não muito agradável e o Rodolfo, coitado… deve ter saído batendo os chifres por todos os lados.

Minha vida de dona de casa também não era das melhores. Como sempre trabalhei todo o dia, nunca tive tempo para estes afazeres caseiros, que sempre detestei. Antes que nosso apartamento virasse um lixão, o Rodolfo providenciou uma empregada muito mais caprichosa do que eu e que devolveu ao lugar um aspecto aprazível e uma sensação de limpeza.

E os dias foram passando daquele casamento dos infernos. Não que o Rodolfo me incomodasse. Nunca. Ele era de uma paz absoluta, calmo, sereno nas suas palavras e nas suas ações, conceituadíssimo no trabalho e ainda por cima, me amava. Meu ex voltou com toda a força, assediando-me e eu já não sabia o que fazer. Não queria trair de novo o Rodolfo, já bastava o que eu tinha feito na lua de mel. Eu estava vivendo momentos de angústia, até o dia em que o Rodolfo chegou com uma cara estranha do trabalho. Depois do jantar, ele me olhou e disse:

- Fui convidado a fazer um doutorado na Rússia.

A primeira coisa que pensei foi: Não vou. Ele continuou:

- Serão dois anos.

Fiquei olhando para o rosto dele, imaginando a melhor maneira de dizer que nem morta eu colocaria meus pés naquele lugar frio. Ele que fosse sozinho ou escolhesse outra mulher para ir com ele.

- Eu sei que você odeia frio – disse ele, cauteloso – Então acho melhor que eu vá sozinho para lá. E dois anos passam rápido.

Joguei as mãos para o céu. Liberdade, estou de volta. Peguei as mãos dele e respondi:

- Faça o que for melhor para o seu futuro, meu amor.

Dali para frente tudo foi muito rápido. Em menos de um mês, Rodolfo foi embora e eu voltei para o meu antigo namorado, sem pudores e sem vergonha nenhuma. Esqueci até que era casada e que existia um marido estudando na Russa. Evidentemente que alguém me viu com o Betinho e não demorou muito recebi um mail do Rodolfo anunciando que iria pedir o divórcio, até mesmo porque ele estava apaixonado por uma colega de doutorado e talvez ficasse por lá mesmo. Exultei. Só que em seguida, o desgraçado do Betinho voltou para a ex-mulher e, quando me dei conta, estava sozinha. Não achei tão ruim. Peguei minhas coisas, abandonei o apartamento e voltei para debaixo das asas da minha mãe. Casamento, nunca mais.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 11/02/2007
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