DIVINA
Havia um homem, que mendigava pela cidade, pedindo esmolas a todos que passavam. Sem rumo certo, ia daqui pra ali e de lá pra cá, não tinha um lar, e mal se alimentava, pois era um “invisível”, ninguém lhe dava atenção, ninguém se interessava por ele. Costumava pegar restos de comida nas lixeiras dos restaurantes e lanchonetes, antes que fechassem as portas e jogassem o lixo fora, e era assim que êle conseguia matar a sua fome. Durante a noite, acomodava-se debaixo de uma marquise na rua principal, e ali mesmo dormia. Quando o dia amanhecia tudo começava novamente, as pessoas passando para os seus trabalhos, os jovens estudantes dirigindo-se para as suas escolas e, afinal, quem iria parar para dar atenção aquele malcheiroso e sujo, sentado na calçada a pedir uns trocados? Todos tinham as suas vidas e seus compromissos, quem iria se importar com aquela pessoa que nada tinha a oferecer, somente a pedir?
Certa manhã, acordou o pobre homem como sempre, sem esperança e achando-se sem destino, mas algo havia de diferente, meio a todo aquele turbilhão de derrotas e tristezas, lembrou-se do sonho da noite passada, que havia sonhado com sua mãe, esta lhe aparecera linda e jovem, como era quando ele ainda era pequenino, um lindo sonho, e ela lembrou-lhe do que lhe ensinara no passado, antes de sua morte, que Deus não abandona ninguém, mas nós sim é que o abandonamos, e lhe pediu que conversasse com ele esta noite, uma conversa de filho para Pai. E assim fez! Seguiu sua rotina durante o dia e a noite voltou a sua velha marquise, mas desta vez, antes de dormir, conversou com Deus, desabafou, chorou e lhe pediu perdão por tê-lo abandonado desde que sua mãe falecera, nunca mais havia voltado a conversar com Êle, havia perdido a Fé, ficara até revoltado com Êle por ter levado a sua mãe tão cedo, por ele ter rolado de casa em casa de parentes, sendo maltratado por eles até fugir e largar-se no mundo. E assim adormeceu antes de terminar aquela conversa.
Algumas noites se passaram... Vários dias amanheceram após aquela conversa com Deus, e tudo parecia como antes, a mesma rotina, nada... exceto... uma cadela que na noite passada chegou-se a deitou-se ao seu lado, para aquecer-se e como estava realmente muito frio, o mendigo não se incomodou, pois ela também o aquecia. Como não tinha com quem conversar, falava com a cadela, que o olhava como se o entendesse:
__ Eu não sei o que você viu em mim, sou um pobre coitado que não tem onde cair morto, não tem o que comer e o pouco que consigo ainda tenho que dividir contigo. Não sei por que Deus me mandou você? Agora são dois a passar fome!
E a bichinha só lhe abanava o rabo!
No dia seguinte, o homem acordou com três jovens moças que passavam para ir à escola e pararam por causa da cachorrinha. Elas riam e brincavam com ela:
__ Mas que cadelinha bonitinha, como é o nome dela? Ela é sua?
E enquanto o homem respondia as perguntas, outras pessoas que passavam, iam colocando algumas moedas em sua caixinha que, até alguns dias atrás, nunca havia visto uma só moeda, e tudo por causa das jovens e da cadelinha, sensibilizando assim alguns transeuntes. E todos os dias mais jovens paravam para brincarem com ela e, cada vez mais, a caixinha do pedinte ficava mais cheinha, já dava até para ele almoçar e comprar ração para ela. Pouco tempo depois, aquilo tudo que acontecia ali na rua chamou a atenção de um repórter de jornal que fez uma bela reportagem sobre aquilo tudo. Conversou várias horas com ele, sobre sua vida, sua história e sobre a cadelinha “Divina”, foi assim que ele passou a chamá-la. Sua história correu o mundo, e três dias depois, sua vida não era mais a mesma, muita gente o procurara, já havia conseguido tratamento de saúde, um emprego e um lugarzinho pequenino, mas quente e aconchegante para ele e sua “Divina” morarem.
Se essa história lhe parece familiar, não pense que é um plágio, ela é muito comum, e existem muitas versões dela na vida real. Quantas vezes você deve ter conversado com Deus, foi atendido, e nem percebeu? Quantas pessoas abandonam sua fé e custam a perceber que não foi Deus quem os abandonou?
Eu dedico este texto a você, que o lê neste momento, e com certeza não chegou aqui por uma coincidência.
“A felicidade não entra em portas trancadas.” (Chico Xavier)
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