O DESTINO DA LAGARTA BAILARINA

Naquele bosque,eu caminhava pela trilha de sempre, sob a algazarra das cigarras e maritacas, na introspecção da alma.

De repente eu a avistei.

Dependurava-se na pontinha duma quase invisível fibra de aranha, que pendia esticada lá de cima, trançada numa lâmina de folha de palmeira.

Tive a impressão de tratar-se de uma micro trapezista, posto que era quase de dimensão invisível a olhos nus.

Aproximei-me e verifiquei que media exatamente meia polegada; uma fração imperceptível de verde fresquinho que provavelmente acabara de chegar a mata.

E que bailarina!

Serpenteava sobre seu próprio corpo como uma artista de dança do ventre, tentando descer da palmeira ao solo.

Eu, que estava com fones de ouvido, os aproximei dela,na intenção de observar se a lagartinha tinha ouvidos apurados.(Não se zanguem, por favor!)-me arrependi de imediato.

E não é que tinha mesmo?

Movimentava-se no ritmo da melodia da rádio, como se aprovasse o gênero musical.

Não pude eternizá-la.

Sempre ando com a máquina fotográfica no bolso, mas a havia esquecido no carro e não tinha com registrar o que descrevo.

-Fique aí quietinha, que já volto-pensei.

Parti em busca da máquina, e ao retornar para o parque, já não a encontrei no cenário.

Tarde demais!

Um atleta distraído, cuja altura dobrava a minha, por ali passava correndo, quebrando seu frágil trapézio de teia de aranha.

Cessara o seu show!-cujas cores nem puderam se expressar.

Arremessada ao solo, seguiu esmagada e grudada na sola dum último modelo de tênis nike.