Dor insciente.

Por volta dos meus quinze anos de idade, lá em Barra Mansa (amor de cidade, do sul do Estado do Rio), eu levei um tombo, “estabaquei”, fazendo gracinhas, com a minha Vespa, em frente ao Colégio Estadual, a fim de ser notado pelas estudantes (ou estudantas? Não sei... Presidente ou presidenta?). Um vexame... A Vespa para um lado, toda arrebentada, e eu para o outro, todo ralado, com cara de “pastéu”... sorriso amarelado pela vergonha e dor (com o antebraço quebrado, na altura do pulso)...

Nisto, um senhor que passava, lembrando que nesta época, e se vão quase cinquenta anos, quando não se anunciava tanto que não se deve tocar em alguém traumatizado em acidente... esse gentil senhor resolve me socorrer... à sua maneira, a primeira coisa que faz é tentar levantar-me, segurando-me, firmemente, pela mão do braço quebrado. Nem preciso descrever a dor que senti... “só” insuportável...

Antes de continuar devo esclarecer o significado dessa expressão, “insciente”, que não é muito usada coloquialmente, e vou pelo exemplo (para simplificar): insciência é ausência de conhecimento específico (ciência), ou seja, estar consciente não implica, necessariamente, estar ciente, por exemplo, do pé... Se é chamada a atenção para o pé, antes, quando havia falta de conhecimento específico (ausência de ciência sobre ele), com este chamamento de atenção se passa a ter ciência sobre ele: repito – mesmo consciente estou, concomitantemente, e naturalmente, insciente de uma miríade coisas ou fatos...

Voltando à vaca fria, aquele senhor, querendo efetivamente me ajudar, acaba por me causar a indescritível dor – enquanto eu pedia, balbuciando, enfraquecido pelo trauma e a dor que exacerbava com o seu “socorro”, para que largasse a minha mão, ele mais me puxava para cima, com ares de orgulhoso de herói, querendo me levantar... um desastre sobre outro desastre...

Moral da historinha: não é incomum causar ou provocar a dor-sofrimento sem a intenção (ciência) de causar o mal, o dano, o prejuízo, ou a dor-sofrimento.

Rodolfo Thompson . 8.7.2012.

P. s. E muito menos com que intensidade e profundidade... Mas nada impede o pedido de desculpas, pois quem sofre a agressão também não está ciente de sua insciência.

Rodolfo Thompson
Enviado por Rodolfo Thompson em 08/07/2012
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