Pressão e Lavagem Cerebral Religiosa Enlouquecem Fiel

(Transcrição do texto, do mesmo autor, publicado em "Irreligiosos" (http://irreligiosos,ning,com)
 
Esta é uma história insólita, daquelas que, embora raras, acontecem vez por outra no meio religioso. E ao contá-la, alguns cuidados com relação a nomes de pessoas, instituições e lugares devem ser preservados, para evitar-se reações e possíveis alegações de danos morais, calúnia ou difamação, erros que este autor condena e sempre se acautela, para não cometê-los.

Assim, o texto embora baseado em fatos reais, será apresentado em forma ficcional, porém mesclada aos fatos verdadeiros, evitando-se a citação de nomes de pessoas, instituições e lugares, na expectativa de que o leitor compreenda esta precaução.

Os incidentes ocorreram recentemente numa cidade interiorana de médio porte, rica em um disputadíssimo minério estratégico de alto valor comercial, na Região Norte. Por lá, acontecem coisas na política, na economia e na religião, que raramente são divulgadas no restante do país. E há, de certa forma, um interesse em que isso seja assim. Se alguém pensou em nióbio, não fui eu quem disse, porque há muitos outros minerais estratégicos naquela região tão pouco conhecida e explorada (por nós).


Mas vamos aos fatos: um certo país europeu enviou à cidadezinha brasileira um emissário comercial para fazer pesquisas e conversar com as autoridades. O objetivo era colher informações geológicas das minas, avaliar o seu potencial, dialogar com as autoridades e ver quais as condições de exportação para os países escandinavos, já que quatro desses países (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia) iam operar em consórcio e tinham interesse em formar uma “parceria comercial” com o Brasil (huuum!…).

Evidentemente, o emissário era fluente em nossa língua, já que, no Norte do país, dificilmente conseguiria se fazer entender apenas com o inglês. Sua permanência estava prevista para uma semana.

Ocorre que a pequena cidade tinha uma particularidade com que o visitante europeu, sem religião, não contava: 60% da população era evangélica e 30% católica. O centro da cidade e os bairros centrais eram, como são até hoje, infestados de igrejas cristãs, das mais diversas denominações, umas cinco ou seis por bairro, a tal ponto, que os 10% não católicos nem evangélicos, geralmente moravam na periferia e sofriam muitas discriminações. Mas o que tem isso a ver com uma missão comercial? Vamos em frente e vocês vão entender.

Essas coisas eu descobri através de recortes de notícias de jornais locais e de emails, enviados por algumas de minhas fontes e amigos que por lá tenho. As notícias que recebi, davam conta de que, ao declarar-se irreligioso (o que é comum nos países baixos europeus), o tal emissário começou a ter dificuldades e sofrer discriminações. Passados quatro dias, nada em sua missão evoluíra e ele começou a ser cobrado pelas autoridades que o enviaram. Explicou os motivos dos embaraços e pediu mais cinco dias, que foram concedidos.

Notando que em todos os seus encontros e entrevistas a sua irreligiosidade era questionada com espanto, constituindo-se num embaraço, resolveu aceder aos diversos convites para participar dos cultos evangélicos, alegando, disfarçadamente, que só era irreligioso porque em seu país a maioria da população também o era e que, portanto, não encontrou reais oportunidades de conhecer nenhuma religião. Foi o que bastou. Dali em diante, novos convites surgiram e ele começou a participar dos cultos, evidentemente, com a intenção de facilitar as suas negociações,que não avançavam. “Talvez estejam esperando eu me converter”, pensou ele.

Esgotaram-se os cinco dias adicionais de prazo e o homem não voltava nem dava notícias. Mais uma vez pressionado, explicou que estava freqüentando uma igreja evangélica “para facilitar as negociações”, que não estavam fáceis, devido ao alto índice de religiosidade dos locais. Pediu mais tempo. Como a missão era altamente importante para os quatro países, mais uma semana lhe foi dada.

E o tempo foi passando, passando, até que ele parou de enviar notícias, atender telefones, sacar dinheiro ou enviar emails. Não atendia a mais ninguém, nem mesmo seus familiares. Como era casado, sua esposa cobrou das autoridades do “consórcio” que verificassem o que estava acontecendo e o trouxessem de volta, porque se nem movimentação bancária havia mais em sua conta, alguma coisa de muito grave deveria ter ocorrido.

Ao cabo de 45 dias, sem alterações, um novo emissário foi enviado para apurar o que ocorrera. E o que ele descobriu? Seu colega estava com um implante e enxertos na perna, quase decepada e quebrada, com fraturas expostas em dois lugares. Mas não estava em um hospital comum ou pronto-socorro e sim, internado num sanatório, em tratamento psiquiátrico, porque se dizia perseguido por demônios. Segundo relatos do novo emissário, seu colega agora usava um crucifixo no pescoço e uma Bíblia na mão, que não largava por nada desse mundo. E também não podia ficar sozinho, primeiro, porque tinha medo e, segundo, porque adquirira tendências de esquizofrenia suicida.


Apura daqui, apura de lá e foi descoberto como tudo aconteceu: num dos cultos, o pastor dissera que o cara estava possuído pelo demônio e que iria exorcizá-lo. E quando partiu para o “exorcismo”, o possuido (???) reagiu e entrou em luta corporal com o seu exorcista. Como o “demônio” estava vencendo a luta, mais quatro pastores mergulharam por sobre o pobre emissário, batendo-lhe repetidas vezes na cara e gritando: “Sai demônio, em nome de Jesus!”. Mas o demônio, louro e forte, encarou os cinco pastores e, na luta, caiu do palanque, cortou a perna (quase decepada num vaso de louça), e quebrou-a, com fraturas expostas em dois lugares. Desacordado e sangrando muito, foi levado ao hospital, supostamente ainda possuído pelo demônio, que não queria sair.

No dia seguinte, os jornais locais estampavam as manchetes: “Estrangeiro É Possúido por Demônio, Ataca Pastores e Quebra Igreja”; “Exorcismo Falha e Possuído É Acidentado” e outras no mesmo viés.

Quando os pastores foram ao hospital, devidamente autorizados, para “terminar o serviço de exorcismo”, o paciente surtou de vez, dizendo que estava com Deus e que eles, os pastores, é quem eram os demônios. Daí, mandou cadeirada neles e, dali em diante, passou a ser diagnosticado como louco. E assim ficaria indefinidamente, não tivesse chegado o outro emissário para resgatá-lo e levá-lo para o seu país de origem. Mas soube-se que nem lá ele se recuperou. Com medo dos demônios, reza, reza, reza, não solta o crucifixo nem a Bíblia e não pode ficar sozinho, seja pelo seu medo ou pelo risco de suicídio.
************** Acabou a história? *************
Não. Agora vem o curioso e inusitado desfecho final: a representação do país de origem do emissário processou a prefeitura da cidadezinha, exigindo uma vultosa indenização para a vítima e para o sustento da sua família, além do pagamento de todas despesas hospitalares necessárias, até o seu completo restabelecimento. Exigiu ainda, e ganhou na justiça (neste caso, excepcionalmente célere), que enquanto a indenização não fosse paga a cidadezinha exibisse a 10 km de sua entrada e a cada 500 metros, a placa de advertência do início da matéria, com os dizeres “PERIGO! ZONA RELIGIOSA: RISCO DE CONTAMINAÇÃO E DANOS CEREBRAIS”.

Entre pagar a indenização e exibir a plaquinha (que consta dos autos do processo e foi desentranhada por um informante), é claro que o prefeito, com o apoio do governo federal, resolveu pagar, imediatamente e no mais absoluto sigilo. Ou era isso, ou seria a desmoralização total da cidade, dos moradores e do prefeito, que nunca mais ganharia uma eleição. Por outro lado, havia o risco de um incidente diplomático e de revelar-se segredos de bastidores do governo brasileiro. O povo iria querer conhecer a cidade e saber que mineral tão valioso era aquele, do qual nunca ouvira falar. Um mineral do qual o Brasil é o maior produtor mundial, capaz de só com a sua exploração, pagar toda a dívida externa brasileira? Não, isso não podia vazar para o povo. Iria ser descoberto que o Brasil estava sendo cúmplice na evasão de divisas e os nomes dos envolvidos seriam revelados. Seria o fim de um longo ciclo de tranquilas negociatas internacionais e, é claro, da carreira política dos envolvidos.

Se alguém quiser saber mais, a internet, os jornais antigos, as fotos e as pessoas ainda estão por aí. Eu é que não posso dar nomes aos bois. Mas se eu consegui, com meus parcos recursos, vocês também conseguem.

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Postado por Ivo S. G. Reis às 09:29

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