UMA NOITE "SÓ" (baseado em fatos reais)

Salto do Ônibus e me lembro do motivo da minha viagem...Meu filho nasceu. Olho para o relógio, (22:45) não tem mais condução a esta hora, e agora? Com muita pressa, vou ao telefone público e ligo para o meu local de trabalho...

-Oi, tudo legal? me atrasei e não tem mais jeito de eu pegar ônibus (disse eu)

-Vem amanhã cedo (foi a resposta)

-Não dá pra alguém me buscar? (insisti)

-Não tem nenhum carro aqui!

Depois do diálogo, procurei uma solução... não conheço ninguém na cidade, o dinheiro que tenho não me permite passar a noite num hotel (deixei tudo para o meu bebe (risos)), esperar por mais seis horas aqui no ponto é perigoso; Vou andar até lá! decidi.

Foram sorridentes quarenta minutos atravessando a cidade, para ganhar a "rio-santos" sentido parati. À minha esquerda, a serra do mar e a misteriosa mata atlântica, à direita, o imenso mar; parei para ler a placa... "ITAMANBUCA 14 KM"; era meu destino.

Enquanto me afastava das luzes da cidade, pensava no rostinho do "Teo", eu o vira hoje, passei o dia a admira-lo e fazendo planos para o seu futuro, à minha frente...escuridão; Era uma noite sem luar, de nuvens pesadas que apagaram as estrelas, prenúncio de tempestade, as vezes, um relâmpago rasgava o breu e o estrondo do trovão quebrava o silencio sepulcral daquela noite.

Passada a primeira hora de caminhada, eis que o vento aperta, a mata geme, a maré chia suas ondas, o tédio me ameaça e eu começo a cantar a peito pleno... The Beatles e os trovadores de minha amada Minas Gerais, me socorreram, ..."vem, de tanto andar a teu lado, de tanto cruzar o sertão, serás meu abrigo te conhecer foi saber o melhor"... Até o final da jornada eu não veria viv'alma, nem mesmo um automóvel marcou a estrada. Vez ou outra, um morcego saia da mata e me assustava num rasante sobre minha cabeça.

Já quase a meio caminho, a tormenta se derramou tão pesada que os pingos ardiam no meu rosto, minha roupa, camisa de mangas longas, calças bem vincadas, sapato de couro até as solas; bem social e nada apropriada para tal jornada. O asfalto estava escorregadio, sentia meus pés dormentes e parei; Tirei os sapatos e as meias, dobrei as barras das calças e prossegui de pés no chão recapitulando a meditação da noite... Agora são três os meus filhos, responsabilidades e planos, medo de covardia, auto cobrança e poesia.

Os primeiros raios do sol levaram a noite e a chuva consigo. Sentei-me na guia, calcei os sapatos e dignamente vestido observei o mar, andei na sua direção por um atalho cortando o mato molhado, deixei o caminho dos carros. Mais dez minutos, e lá estava o portão, o vigia me fez uma saudação com um belo sorriso e perguntou... -como chegou aqui? Eu respondi... -O bom pai me trouxe.

Corri para o banheiro coletivo, abri o chuveiro, arranquei as roupas pesadas e banho delicioso de decisão... NÃO VOU TRABALHAR HOJE! Fui para minha cama, fiz uma oração de agradecer , gritei um palavrão de celebrar, pesaram meus olhos e adormeci.

Uma única noite de silencio e total solidão eu vivi.

#" "- verso de Beto Guedes da musica "No céu com diamantes"

Mar Ferreira
Enviado por Mar Ferreira em 06/07/2012
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