ALICIA
E Alicia acordou um dia com a falta no peito,sufocando mais do que deveria,não sentia-se inteira.O mundo já estava louco lá fora enquanto ela sentava e pegava uma xícara de café e chorava,chorava,chorava mas ao contrário de todos ela sabia o porquê,estava desiludida com tudo,andava de um lado para o outro da casa esperando que o dia passasse rapidamente,apertava as maõs,deitava e assistia televisão na tentativa de algo,de saber que já estava no final e que aqueles gestos eram os sinais disso.Depois o que viria?Era o que martelava em sua cabeça,aceitação dos fatos e recomeço...talvez mas como estava sendo difícil para a garota de nome forte aguentar,essa era a palavra aguentar.
Como encontrar os amigos ela nem sabia mais,como trabalhar com aquilo em sua cabeça?E acender tantos cigarros?Como lidar com a liberdade?
Se arrastando pelos cantos,vendo,ouvindo todos supondo e colocando em pauta suas emoções,como dizer que queria ser feliz e desejava o mesmo?
Sem enganos,sem desculpas ela pensava de que forma tudo iria passar.
Alicia aparecia de vez em quando,todos a olhavam,alguns de soslaio insinuando não se importarem,queriam ver como ela havia reagido, a olhavam da cabeça aos pés inutilmente,seu olhar de melancolia agora era profundo como a alma quando a olhavam sentiam-se entrando em buraco,mergulhando fundo nela,talvez por isso Alicia não olhava nos olhos das pessoas tinha medo de afogar-se.
Seus colegas de trabalho não a reconheciam,comentavam entre eles onde havia parado aquela garota cheia de vida e falante que agora era uma prisioneira sim, Alicia havia se aprisionado em sua tristeza e não se dava o direito de libertar-se,sentia-se acomodada aquele estado e não sabia exatamente como voltar,evitava conversas prolongadas com estereótipos como os pseudosalvadores,aqueles que iam fazer um verdadeiro sermão com ares de arrogância e enumerar as pessoas que conheceram em situação igual a dela e daí?Quem disse que as pessoas tem sentimentos iguais?Ainda tinham os bons samaritanos que aconselhavam, mas eles mesmos não haviam se livrado de suas dores, pensando em tudo ela decidiu lavar o banheiro,esfregava daqui, limpava dali e Alicia sentiu sua dor incurável enquanto desligava o chuveiro lembrou,enquanto jogava sabão suspirou,conteve-se,imaginou com uma pontinha de otimismo que aquilo um dia passaria mas,poderia levar uma semana ou um ano,era o seu tempo não o dos outros.
Certa vez sentou para ler um livro que há tempos queria,e sua mãe passando pela sala olhou-a e disse:
_Olha como você está recuperada!
Ela sorriu de um jeito convincente para não decepcionar a mãe,mas por que será que as pessoas acham que resolvem?por que em um momento de choro elas falam tanto,em vez de só calarem e ficarem perto?Tanta salvação para quem?Se tudo era insano,a própria verdade parecia insana,tempos de loucura.
Mais um dia havia terminado e depois e depois,os fatos seriam considerados não em sua totalidade,talvez ficasse uma ferida aberta ou só uma mentira com cara de verdade ou só Alicia com sua cara.