SEMENTES DE QUIABO

SEMENTES DE QUIABO

Há tempos o pequeno apartamento estava vazio. Artur preocupava-se com a situação. Certa manhã enquanto esperava para ser atendido na fila do posto de saúde, conheceu Dona Elza. Após boa meia hora de prosa, ele descobriu que ela estava procurando uma casa para morar.

Entusiasmado, deu-lhe o endereço e após sua consulta no posto, rumou rapidamente para casa. Estava ansioso para contar a novidade a Alice sua esposa. Esta não lhe deu nenhuma atenção, estava assistindo TV. Era sempre assim.

Dona Elza mudou-se numa tarde chuvosa. Artur estava satisfeito. Recebera dois meses de aluguel adiantado. Esta quantia iria tirá-lo das mãos de um agiota. O pequeno apartamento logo ficou lotado. Dona Elza morava com o bisneto, e um filho caçula. Ela era pensionista de seu falecido marido, e a quantia que recebia era tão insuficiente que Dona Elza ficava completamente descapitalizada dois dias depois do recebimento de sua pensão. Ela pagava o aluguel e todas as outras taxas, fazia as compras e já no terceiro dia, não tinha mais nada. A sorte é que ela recebia três cestas básicas para ajuda da manutenção da família.

Artur e Alice estavam desesperados e tentavam dar um jeito de pedir o apartamento de volta antes que acabasse o contrato. Seria difícil, mas não impossível. Dona Elza tinha mais de oito filhos e todos os dias a casa ficava cheia. Tinha arranjado um cachorro que era terrível. Comprara duas dúzias de galinha, pagara alguém para fazer um galinheiro, e ainda fez uma horta no lado da casa.

Certa noite, Artur deu uma passada no terreno, onde tinha a casa de Dona Elza, chegando lá viu uma parreira de quiabo e perguntou ironicamente para Dona Elza: - Onde a senhora arranjou as sementes? Ela fingiu que não tinha entendido, e foi para o meio do quintal, molhar suas plantas, que já estavam bem altas.

Alguns anos passaram, e Dona Elza incrementou a horta e muitos outros pequenos detalhes no terreno. Artur e Alice que no princípio desejavam ficar livre da mulher e de sua família, nada fizeram de concreto para tal. Com surpresa receberam a notificação do juiz, para apresentaram-se na audiência. Dona Elza requeria a posse do terreno, alegava que plantava, colhia, cuidava dos animais, etc., e que ainda seu patrão o Seu Artur descontava o aluguel da casa.

Dona Elza sorria feliz com todos os dentes que ainda tinha na boca. Ganhara a ação, tornara-se proprietária do sítio, onde antes era inquilina, e lembrou-se do difícil começo, naquela pequena casa. O Artur e a Alice faziam cara feia, quando ela falava o que desejava fazer no terreno. Apenas faziam cara feia, pois na verdade eles não tomavam nenhuma providência contra ela. Assim ela foi se esticando como uma cobra pronta para dar o bote. Em algum lugar do planeta o casal Alice Artur lamentava terrivelmente a perda, e lembraram-se que tudo começou quando eles deram de presente um pequeno envelope contendo sementes de quiabo, acreditando que a horta caseira era apenas uma distração para a velha.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 06/07/2012
Código do texto: T3762889
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