Há DIAS ASSIM...
Acordei já com os olhos abertos.Há dias assim:as coisas correm em dois planos diferentes. Por isso,tudo é mais nítido e dificil.Como se realmente tivesse sido comprovada a teoria de que duas dimensões são melhor que uma. Em dias normais, convém reparar, tudo coincide:abrimos os olhos e acordamos sincronizadamente,olhamos um objeto e o objeto está ali,dizemos
uma coisa e estamos pensando apenas nela.Mas, em dias como o de hoje, tudo se passa em níveis diferentes e o abir dos olhos pressupõe ver outra coisa.
Olho aberto, contrario da inercia. Por que não continuar dormindo? Mas não volto a dormir, o dia já se instalou em mim. Olho então em volta,como sempre faço, para avaliar se o quarto
ainda esta escuro. É um pequeno truque para saber se ainda é cedo, ou se o tempo esta nublado.Mas num dia dia como o de hoje, ao correr os olhos pelo quarto, reparo que não tem a menor importancia, se esta claro ou escuro. Decorridos poucos segundos do ato de acordar, estou completamente imersa num dia mortiço.
São dias diferentes estes, porque cada gesto, cada ação, cada coisa que fazemos são acompanhados por um pensamento
ativo, vigilante e questionador. E eu, que tento evitar perguntas e dúvidas, me afogo em milhares de opções.
Podem crer, não tenho grandes dramas, habitualmente.
Meus dilemas até que são simples. O existencial, o afetivo, e até o patriótico estão para mim perfeitamente equacionados. Sou razoável e equilibrada. Mas em dias como o de hoje, estranhas
coisas ocorrem, mesmo com gente sensata como eu. É em dias assim que percebemos os grandes buracos que foram deixados para tras, as grandes respostas que ainda não conseguimos con-
catenar, as decisões que não tomamos, os berros que não proferimos, etc etc. Para quem gosta de tudo bem explicado, digo
que os dias como os de hoje podem ser definidos como dias sensíveis. É a propria estrutura do dia que incomoda com suas dúvidas, e dilemas. O que fazer em dias assim?Esperar. Desfiar o dia inteiro, que as vinte e quatro horas, por mais lentas que passem, duram somente vinte e quatro horas.
O gesto seguinte: sair da cama. Seria melhor dizer "escorregar da cama". Eis-me de pé. Logo, o primeiro conflito:Estara um dia bonito, com bom tempo? Que roupa devo vestir? Vou trabalhar no jardim antes do café?Tomo café primeiro ou não? Coloco botinas ou tenis? coloco adubo nas orquídeas hoje? Ah, acho que vou tomar café primeiro.Comer o que? Pão com manteiga e lete? Com leite puro? Ou com café?Com chocolate talves? Nao gosto de leite, mas tenho que ingerir.Por causa da osteoporose? Valera a pena? E por ai vai este dia.
Curioso, há dias assim.As coisas ocorrem em dois planos distintos. Por isso tudo é mais nítido. E mais dificil.
uma coisa e estamos pensando apenas nela.Mas, em dias como o de hoje, tudo se passa em níveis diferentes e o abir dos olhos pressupõe ver outra coisa.
Olho aberto, contrario da inercia. Por que não continuar dormindo? Mas não volto a dormir, o dia já se instalou em mim. Olho então em volta,como sempre faço, para avaliar se o quarto
ainda esta escuro. É um pequeno truque para saber se ainda é cedo, ou se o tempo esta nublado.Mas num dia dia como o de hoje, ao correr os olhos pelo quarto, reparo que não tem a menor importancia, se esta claro ou escuro. Decorridos poucos segundos do ato de acordar, estou completamente imersa num dia mortiço.
São dias diferentes estes, porque cada gesto, cada ação, cada coisa que fazemos são acompanhados por um pensamento
ativo, vigilante e questionador. E eu, que tento evitar perguntas e dúvidas, me afogo em milhares de opções.
Podem crer, não tenho grandes dramas, habitualmente.
Meus dilemas até que são simples. O existencial, o afetivo, e até o patriótico estão para mim perfeitamente equacionados. Sou razoável e equilibrada. Mas em dias como o de hoje, estranhas
coisas ocorrem, mesmo com gente sensata como eu. É em dias assim que percebemos os grandes buracos que foram deixados para tras, as grandes respostas que ainda não conseguimos con-
catenar, as decisões que não tomamos, os berros que não proferimos, etc etc. Para quem gosta de tudo bem explicado, digo
que os dias como os de hoje podem ser definidos como dias sensíveis. É a propria estrutura do dia que incomoda com suas dúvidas, e dilemas. O que fazer em dias assim?Esperar. Desfiar o dia inteiro, que as vinte e quatro horas, por mais lentas que passem, duram somente vinte e quatro horas.
O gesto seguinte: sair da cama. Seria melhor dizer "escorregar da cama". Eis-me de pé. Logo, o primeiro conflito:Estara um dia bonito, com bom tempo? Que roupa devo vestir? Vou trabalhar no jardim antes do café?Tomo café primeiro ou não? Coloco botinas ou tenis? coloco adubo nas orquídeas hoje? Ah, acho que vou tomar café primeiro.Comer o que? Pão com manteiga e lete? Com leite puro? Ou com café?Com chocolate talves? Nao gosto de leite, mas tenho que ingerir.Por causa da osteoporose? Valera a pena? E por ai vai este dia.
Curioso, há dias assim.As coisas ocorrem em dois planos distintos. Por isso tudo é mais nítido. E mais dificil.