Enlace Vespertino
Entediada, a esposa recatada no canto da sala, esperava assentada que o marido encerrasse a conversa em particular com o banqueiro, seu amigo íntimo.
Mal sabia ela que se tratava do mais infortúnio compromisso, ao ter os dois companheiros de peleja como principal dilema, o pagamento dos favores da nova proeza na casa de galanteios, onde a noite se reuniam os senhores ricos. Cujo sócio reconhecido, era o astuto banqueiro, naquilo que muitos tratavam como o mais sórdido de todos os vícios.
À mesa, papel, pena e tinteiro compunham o roteiro de indagações a que a desolada mulher se valia. Provando vez por outra o frescor do vinho tinto na taça requerida, que há poucos minutos o jovem garçom gentilmente havia lhe cedido.
Pensou por mais alguns instantes qual seria o melhor caminho, onde pudesse incorrer na sutileza do bilhete a ser redigido.
Mas só então quando o demorar da prosa entre o banqueiro e o marido, dava mostras de que o assunto entre eles havia se estendido, foi que por fim, decidiu se aventurar naquilo que o coração há muito lhe impulsionava que se fosse dito.
Apanhou firme a pena, posicionando cuidadosamente a folha ainda em branco sobre a mesa, começando a tecer à letras pequenas, as frases insólitas que ela trazia em segredo consigo.
Na descrição detalhada, passou a dispor sobre a estupidez do marido. Preocupando-se em esclarecer ao amante, as razões que lhe faziam padecer por não ter ainda com ele fugido.
Depois de tudo esclarecido, dobrou o papel com capricho, que só seria entregue no momento propício.
Encostou-se novamente às almofadas do sofá, passando então a folhear as páginas do livro antigo, numa espera impaciente do que ainda não tinha acontecido.
Foi-se então um quarto de horas quando os dois senhores pareciam ter se resolvido, permitindo-lhe assim levantar-se em direção ao corredor por onde o garçom regressava da última mesa que havia servido.
Sem demora, a mulher ardilosa enfiou-lhe o bilhete pelo bolso do avental despercebido, trocando em miúdos rápidos olhares que os alertavam contra os perigos a rondar os amantes escondidos.
Na despedida do café naquela tarde, o banqueiro cauteloso preferiu não se arriscar mais que o amigo, que entregou ao garçom a generosa gorjeta pelos préstimos do serviço.
Foram-se então cada qual para um lado da cidade, ansiosos para que a noite logo chegasse, quando podiam enfim reaver os planos traçados no lazer vespertino, onde frequentemente eram vistos.
Conforme o acerto, o marido pagaria o valor mínimo pelos afazeres que na casa de galanteios seriam oferecidos.
O banqueiro, sócio reconhecido, arcaria com os pormenores do prejuízo, afim de satisfazer a estadia do cliente assíduo.
A esposa, para todos os efeitos, logo após o jantar encerraria a leitura do livro. Esquecendo-se propositalmente da janela do quarto do casal entreaberta, por onde o jovem garçom chegaria no horário previsto.
Que no bilhete entregue às pressas naquela tarde, ela havia deixado por escrito.