ROSINHA PANFLETEIRA
ROSINHA PANFLETEIRA
A dúvida era : deveria ou não se confessar ao padre ?
Só quem sofre dia e noite é quem perde o medo de errar. A vida é uma escola que não dá moleza á ninguém, e se tem alguém que acha a vida fácil, agradeça a Deus por não ser Rosinha. Minha menina-flor soube desde cedo ser gente grande, soube o quão quente é o sol do meio dia. Mulata do sorriso branco, Rosinha vivia só com a mãe, Dona Luzia, que já doente e acamada, dependia da filha para quase tudo, inclusive financeiramente.
Estudos pela metade, não era novidade que não lhe dessem um emprego, e os bicos que fazia na casa de um e de outro dava mal para a comida. Sua sorte estava depositada em seu Jonas, dono do supermercado da esquina, com esse podia-se contar ! Por três vezes na semana, Rosinha oferecia-se para entregar panfletos com as ofertas do supermercado nos sinais da cidade, por onde circulava bastante gente, e o comerciante muitas vezes mesmo sem necessitar do serviço, via a condição da pobre mulata e compadecia-se em ajuda-la.
Pagava-lhe quinze reais a diária, e de agrado, dava-lhe dois ou três itens da mercearia. O sinal era sempre o mesmo. Deixava a mãe em casa nos cuidados de uma vizinha, e seguia para a labuta. Das dez da manhã ás cinco da tarde fielmente estava Rosinha naquele transito, esperando a luz vermelha aparecer para que pudesse visitar as janelas semi-abertas dos motoristas e passageiros com seus panfletos. Aos que recebiam, dava um sorriso, e aos que achavam a vida fácil e dificultavam seu trabalho não recebendo seu produto, sorria igualmente. Pensava no dinheiro, que de tão pouco, sumia-se só em imaginar na enorme quantidade de coisas que tinha a comprar.
A tarde caia e já se fazia hora de voltar para casa. Os panfletos já estavam quase sumindo de suas mãos, faltavam poucos, o sinal fechou, a menina zigzagueou entre os carros. Enquanto distribuía, ouviu um carro a lhe buzinar, de dentro dele acenava uma mão chamando-a para mais perto. Meio que sem entender mas com curiosidade, ela foi até lá, o vidro baixou e ela então disse :
- Diga lá moço, me chamou ? –perguntou a menina bruscamente ao homem.
O condutor era um senhor de meia idade, daqueles metido a garotão, de camiseta e óculos escuro.
- Chamei sim minha flor, é que passo por cá todos os dias e quase sempre lhe vejo, estava pensando se ce num queria entrar aqui pra gente dá uma voltinha, prometo que é rápido. – disse o homem, com meio sorriso no rosto.
Rosinha avexou-se com o convite, não sabia as intenções daquele homem para com ela, boas ou más.
- Desculpe moço, mas é que estou trabalhando e não posso ir, além do que, eu nem conheço o senhor, me desculpe mas não posso ir !
- Você é bonita guria, não precisa de ficar entregando papel em sinal não, quanto você ganha pra ficar aqui ?
- Quinze reais moço- respondeu a menina, como quem já queria se sair da conversa.
- Ora pois, entre cá que lhe dou cinqüenta para dá uma voltinha com você flor !
Rosinha não escondeu o espanto, e o homem não escondeu o sorriso de quem sabia que o peixe estava quase mordendo a isca. Cinqüenta reais. Quantas coisas não poderia comprar com esse dinheiro ! Iria ser uma ajuda e tanto, poderia comprar coisas para ela e para a mãe. Sua mãe ! Não, ela não iria gostar se ela saísse com aquele homem, pronto, não iria !
- Não moço, não sou disso não, não posso – disse ela de cabeça baixa.
O homem deu um sorriso forçado. O sinal abriu, rapidamente ele disse:
-Pense bem guria, passo aqui todos os dias nesse mesmo horário, venha cá !
E então se foi. Rosinha ficou ali parada por um instante, pensando e pensando. Seria errado conseguir dinheiro para sobreviver ? Até onde poderia ir para consegui-lo ? Ele só queria mesmo passear ou lhe passear a mão ?
Largou o restante dos panfletos no chão e voltou para casa, pensando e pensando, e a proposta não lhe saia da cabeça. Ao chegar em casa, a surpresa. Um bilhete na porta da geladeira pequena e enferrujada deixado por Ana, sua vizinha, informava que sua mãe havia tido uma piora, e que teve de ir com urgência ao hospital, na cidade vizinha. Rosinha rapidamente mudou de roupa e pegou a condução para ir ao encontro da mãe. Durante a viagem não lhe saiu da mente aquele homem, aquele carro, aquele sinal, e pensou durante toda a viagem.
Ao chegar no hospital, encontra Ana sentada em um dos primeiros corredores, com um terço na mão. Chegou para falar-lhe, temeu o pior, mas tudo estava bem, ou quase isso. Ana explicou que dona Luzia teve um inicio de derrame, e descobriram também uma forte alergia na corrente sanguínea, a alimentação e a medicação agora teriam que ser mudadas, o governo não dispunha dos medicamentos requeridos pelo medico, teria que comprar, iria tentar arranjar com uma amiga que tinha um colega vereador de outra cidade,mas não era de certeza conseguir, o certo era que de começo teriam que comprar. Mas de onde lhe viria o socorro ? Não é difícil imaginar a primeira coisa que veio a cabeça de Rosinha, era o caminho mais fácil, ela voltaria ao sinal ....
(CONTINUA)