O FOLGADO
O FOLGADO
Ele só não era mais folgado por falta de espaço. Era daqueles que gostava de levar vantagem em tudo e que só favorecesse a ele. Quanto aos outros eram só detalhes que nem merecia sua preocupação.
- Olá gente? Tudo bem aí? – dizia Roberlei ao chegar ao barzinho, puxar uma cadeira e ir sentando-se na maior tranqüilidade. Que temos aí? Olha só: torresminho, frango a passarinho, queijinho e cervejinha. Garçom, trás um copo!
Os outros que estavam na mesa entreolharam-se e ficaram se mordendo de raiva. O que acontecia era o seguinte. Roberlei gostava de se aproveitar de toda situação e pior que isso, de graça. Não mexia no bolso para tirar um centavo. E não era só nessas simples reuniõezinhas de amigos: aniversários, confraternizações, encontros. Entrava com a maior cara-de-pau e nem se envergonhava.
Voltemos ao barzinho.
Depois de se “alimentar” na maior fartura, antes da conta chegar, ele já se despedia.
- Bom, amigos, a coisa tava boa mas tenho compromisso. Sinto muito em não poder ficar, mas tenho que ir . Tchau! – e ia mesmo.
Era sempre assim. Mas chegou a tal ponto que a turma não estava agüentando mais. Não podiam sair para jogar uma conversa fora, que lá vinha o Roberlei na maior folga.
- Gente, a coisa não pode continuar assim. Temos que dar uma lição no Roberlei para ver se ele aprende. Tem de aprender. O cara é “mala”!
- Mas não podemos esquecer que ele é o filho do patrão.
- Por isso mesmo. – disse Rogério.
- Tenho uma idéia! – falou Paulo. Vamos ver se vocês concordam.
- Concordamos com qualquer coisa! – disseram ao mesmo tempo os demais.
- Olha, é o seguinte. O mês que vem é aniversário do Márcio. Vamos fazer uma festinha e a idéia é fazer com que o Roberlei pague a conta sozinho.
- Mas vamos convidar o “mala”?
- Claro. No próximo encontro, aqui, vou trazer um gravador de bolso e vamos obter uma promessa de que ele vai pagar a conta, sem ele ficar sabendo. Vamos combinar com o dono do bar de que ele não quiser pagar a conta vai ter de pagar em serviços, como lavar pratos e atender os clientes. Combinado?
Todo mundo concordou.
Sexta-feira. Dia nacional da cerveja. Os amigos novamente se encontraram no barzinho. A certa altura da conversa eis que aparece Roberlei, com o mesmo papo de sempre. Puxou a cadeira e lá vai ele!
- Roberlei, é o seguinte. Mês que vem é o aniversário do Márcio. Estamos programando uma festinha e gostaríamos que você comparecesse. É uma festa surpresa. Mas você terá que nos ajudar nas despesas. Concorda?
- Claro! Amigo é para essas coisas. - disse ele, indo direto nos beliscos.
- Concorda? – perguntaram surpresos os outros.
- Com tudo que vocês quiserem. Podem combinar!
- Não vai ser uma festinha barata. Assim mesmo você concorda?
- Já disse que sim! Vamos fazer o seguinte: deixa por minha conta.
Todos se surpreenderam. Mas o gravador estava funcionando sem ele perceber.
“Deixa por minha conta” – pensou Roberlei. “Vou dar um jeito de ser de graça. Para mim, é claro”.
Tudo combinado, os amigos se despediram e marcaram novo encontro. E iam ter de agüentar Roberlei até o aniversário.
Chegou o aniversário e o que temiam aconteceu. Roberlei nem deu a cara. Desculpou-se dizendo que estava doente e que precisava ir ao médico. Mas os demais nem se preocuparam. Estavam com a promessa feita por Roberlei devidamente gravadas.
A festa foi até altas horas. Regada o uísque, vinho, cerveja e tudo a que tinha direito. A conta ficou meio salgada e agora era ver se o plano dava certo.
Por alguns dias Roberlei não deu sinal de vida. Mas quando chegou a sexta-feira...
- Tudo bem amigos? Que beleza de mesa essa! Garçom, trás um copo!- pediu.
- Não quis vir à festa do Márcio, Roberlei?- perguntou Paulo.
- Sabe como é. Tive que ir ao médico e depois outros compromissos me impediram de comparecer. Foi uma pena. Mas fica para a próxima.
Nisso se aproximou o dono do bar, o Sebastião, e falou para o Roberlei.
- A conta da festa Roberlei. Falaram que você é que iria pagar. Deu esse valor. Como você vai acertar? Com dinheiro ou cartão?
Roberlei ficou branco, mas falou:
- Como pagar? Se nem participei? – retrucou.
- Mas você nos falou que iria pagar a conta, na frente de todos nós.
- Eu não falei nada! Se eu falei, prove! – desafiou Roberlei.
Paulo tirou um pequeno gravador e o ligou. Estava tudo ali.
- Mas que m...! – disse o folgado.
- Agora nós vamos embora. Você se acerte com o Tião!
O dono do bar ficou olhando para o Roberlei e disse:
- Como é que fica? Estou esperando! – cobrou o dono do bar.
- Sacanagem!
A contragosto tirou o cartão e passou para o Sebastião:
- Faz em seis vezes? – perguntou.