A CENA
Quase toda manhã a cena se repetia: Ele, um homem de mais ou menos quarenta anos, rosto redondo, bigode e barba; conduzindo uma cadeira de rodas com ela: branca, corpo magro, braços atrofiados e olhar para o nada. De vez em quando, ele apontava para algum lugar como se chamasse a atenção dela para algo. Constantemente ele limpava uma secreção que corria nos lábios dela ou a ajeitava na cadeira. Havia também as conversas sem respostas, com direito a sorrisos. De vez em quando um beijo na face ou nos lábios. A cena se repetiu muitas vezes. Pessoas comentavam versões, mas nenhuma delas se confirmou.
Até que notaram suas faltas nas manhãs daquela praça.
O tempo passou, até que um dia ele foi visto sozinho, sentado num dos bancos e no silencio, ficou ali por algum tempo, como se vivendo lembranças; até que se levantou e foi embora, para nunca mais voltar.
Simples assim, uma história sem história, mas que marcou a vida de muita gente na cidade.