CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVII – Ainda em Cuité (PB)
 

CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVII – Ainda em Cuité (PB) – 24.06.2012
 

 
...Bom domingo para a prática do futebol diria um locutor de rádio. Estádio Jaime Pereira, o “Pereirão”, completamente lotado, as torcidas vibraram do começo ao fim com lances maravilhosos proporcionados mais pelos visitantes, claro. Contudo o Expressinho fazia das tripas coração para se defender. Encerrada a partida, resultado de goleada, 5 x 0 para o Campinense. Não era moleza para um clube de várzea enfrentar uma equipe tão poderosa, até que o placar poderia ser mais dilatado. Os torcedores do Cuité Clube a cada gol do adversário contentavam-se como se fora seu, num despeito além do normal, mas quem rir por último o faz melhor.
 
            A festa causou inveja aos diretores do Cuité Clube. Inventaram, então, para ficar por cima, participar de um campeonato paraibano não oficial – parece que o Campinense e o Treze estavam licenciados da Federação Paraibana de futebol. Olho grande pode gerar prejuízos. Não deu outra, pagando ordenado a atletas de fora, o Cuité além de perder as partidas não tinha como bancar tantas despesas, inclusive com alimentação. Foi então que o Barros, seu técnico e diretor, com certa modéstia, pediu aos dirigentes do Expressinho que cedessem atletas seus para reforçar sua equipe, evitando com isso maiores ônus. Fora atendido, até o próprio Nobre jogara emprestado. Mas o prejuízo fora grande, até hoje não se sabe quem “pagou o pato”.

            O Expressinho continuava fazendo seus jogos contra equipes das redondezas, como Picuí, Nova Floresta, Barra de Santa Rosa e outros. Enquanto o futebol de salão do banco sempre jogava em Jaçanã, Coronel Ezequiel e Santa Cruz, do Rio Grande do Norte. O Maia era um dos principais artilheiros, recebia as bolas prontinhas do Nobre e de toda a equipe. Todos trabalhavam para que fizesse os gols, ele adorava, vibrava de contentamento, parecia uma criança. Grande cara, que o Nobre ajudara e muito na sua carreira profissional. Na defesa, Basílio era uma barreira, cortava tudo, Lira gostava de driblar e o fazia com excelência. Dr. Roberto de vez em quando entrava no time. Falaram às esposas dos atletas que eles iam a Santa Cruz somente para namorar. Coisa nenhuma iam mesmo pra jogar e quase sempre eram derrotados, embora algumas partidas fossem duras de roer. Além do mais, cada um mais feio do que outro, e todos comprometidos, quem queria?

            O bar do Pedro, no centro da cidade, era o palco das discussões depois dos jogos. O serviço de rádio não parava. Uma cervejinha aqui outra acolá, o desfile dos que ganharam pela calçada querendo aparecer, coisa mesmo de gente humilde, mas havia os que quisessem impressionar as meninas do lugar. A noite sempre muito calma, não se tem notícias de violências ou de qualquer crime, salvo pequenos incidentes em terras circunvizinhas. Na cadeia só havia um preso, uma pessoa muito legal, tão boa que obtinha a permissão do Juiz de Direito para passear, namorar, ir a casa, contanto que voltasse à cela no máximo às 22 horas... E ele o fazia religiosamente.

            Naquele tempo, início da década de setenta, a dificuldade de conseguir professores era imensa, até porque sairia muito caro trazê-los de Campina Grande. Então o Nobre recebera o convite do colégio do Dr. Rolim, pertinho de sua casa, para lecionar algo parecido com “noções de prática de escritório e serviços bancários”. A portadora do convite fora uma pessoa espetacular, senhora Nita, filha do grande produtor João Teodósio. Nobre saía do banco direto para o colégio de onde largava por volta das 22 horas. Boa experiência, segundo ele. Nada queria receber por conta. O Dr. Rolim achara injusto, insistiu e terminou conseguindo pagar pelas aulas. Também lá ensinara o técnico da EMATER, Dr. Ernani, grande líder no seio da comunidade e dos agropecuaristas.

            Um aluno de destaque era o Benjamin James Souto, do quadro de apoio do banco, antigamente conhecido como contínuo, funcionário que transformara completamente o arquivo da Carteira Agrícola, sob a orientação firme do Nobre, mas com muita criatividade. Dedicado ao extremo, deixava muitas vezes de namorar para estar à noite trabalhando na carteira, juntamente com o Nobre, Frazão, Jesuíno, Ary e Maia. Ele de vez em quando colocava seu professor numa “fria” com perguntas de bolso, querendo “empulhar” seu chefe. As respostas eram fornecidas, não se sabe se agradavam.

            O comércio de agave, principal produto da área estava fraco. Havia produtores e comerciantes que se deslocavam até mesmo para a Bahia em busca de melhores condições financeiras para bancar as despesas com as explorações, com o beneficiamento primário, pois quase todos detinham máquinas próprias, rudimentares, mas que significavam muito em termos de produção. O Banco do Brasil se fazia presente em todos os sentidos, dando o apoio necessário à consecução desses objetivos.

“Nobre, que tal nos contar mais alguma passagem humorística que tenha ocorrido no Banco do Brasil, durante a sua permanência em Cuité”, sugeriu o Pirilampo.

Pois não meu amigo. Aconteceu na Carteira Agrícola num dia de grande movimento de agricultores em busca de empréstimos para o plantio de suas lavouras de subsistência, tais como milho, feijão, mandioca, mas também cuidavam do algodão e do sisal, este um produto que pouco necessita de chuvas.

O rurícola João da Cobra, cuja propriedade ficava situada bem na subida da Serra de Cuité (700 metros acima do nível do mar), chegara bem cedinho para ser um dos primeiros na fila de atendimento, que era enorme todos os dias. Fora atendido pelo comissionado Frazão: “Senhor João, como que chegou tão cedo ao Banco”, perguntara o funcionário. – Sabe doutor, a minha bicicleta hoje amanheceu com uma disposição danada. – Também, do jeito que o senhor cuida dela não é seu João! E foi atendido em primeiro lugar.

            Dona Jane, esposa do Nobre, fizera amizade com muitas senhoras e moças de Cuité. Nominá-las seria cansativo, mas ela destaca a grande colaboração recebida da Ilca Costa, que morava perto da rua da sede do Expressinho, uma excelente pessoa, de boa formação, educada, que hoje exerce a profissão de comerciante. Comprara ao José Cândido o imóvel onde funcionava a farmácia do Bastinho. Vive num corre-corre danado para conduzir seus negócios... Parabéns Ilca.

 
Em construção/revisão

A foto é da Jane, Ilca e Míriam.
Ao fundo uma tela de minha autoria.
Ansilgus

ansilgus
Enviado por ansilgus em 30/06/2012
Reeditado em 30/06/2012
Código do texto: T3752292
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