PRESNTE DE IANQUE.

O seu coração se enchia de alegria toda vez que Duca chegava em casa.Lucia sabia que poderia perde-lo a qualquer momento,e por mais mórbido que lhe parecesse as vezes(o que é a morbidez quando se trata de amor?) justificava a si mesma ela,quando pensava no assunto,tinha que reconhecer que toda essa angústia era talvez a melhor das fantasias,a melhor surpresa que se repetia de forma fantástica dia após dia (as vezes semana após semana),sem nunca perder o brilho do olhos,e o temor do coração.

-Eu tenho um presente pra ocê!-Sorria como se não soubesse que o melhor presente era ele estar ali,de volta,como sempre acabava por estar,graças a Deus!

-O que é?-não consegue,nem tenta esconder a curiosidade misturada com a surpresa da volta,e a maior ainda,surpresa pelo presente.

Estende a mão,fecha os olhos.O pequeno tamanho do objeto não lhe incomoda,Yao pouco a surpreende mais.surpresa era ser presenteada sem data nem motivo especial.Não era nada de mais,apenas um relógio de pulso,de pulseira de couro marrom e sem nenhum luxo.Lhe entregou assim,dentro de uma bolsinha de veludo azul marinho,muito simples.Mas não era também a embalagem que importava,e sim o comentário que veio com a surpresa.

-Comprei lá em Nov Iorque...Dum senhorzinho de muleta coitado...Só de lembra dava pena.comprei mai por pena,mesmo,nem sei se cê gosta de relógio,ver as hora pra quê né?

-Cê disse Nova Iorque foi?

Mal escutou a afirmativa,já corria pelas ruas da pequena cidade maranhense,indo direto para o pequeno armazém onde sua irmã Dulcineia via as horas morrerem sem graça,sem surpresa.num relógio comum grudado á parede de tijolos soltos,não era um relógio trazido de Nova Iorque,mas pra ver o tempo passar,até que dava,ainda mais ali onde nada acontecia.

-Olhe só o que Duca me deu de presente mana...-Exibia o pulso magro,o relógio rolava facilmente pelo braço da moça.

-Um relógio!Que é que tem de mais me diga?

-É de Nova Iorque boba,ele trouxe especialmente lá do estrangeiro pra mim.

-E quando é que o Duca foi pro estrangeiro,me diga?

-Quando foi não sei,só sei que foi.E se quer prova ta aqui.-Exibe novamente o pulso,cada vez mais orgulhosa,cada vez mais cheia de si.

Dulcineia mal repara na entrada de Margarida n mercearia e esperta como ela só,não perde a oportunidade de se gabar,por meio da Irã é bem verdade,da cultura e da boa forma financeira de sua família.A final quem vai de Maranhãozinho até nova Iorque,ainda mais sendo caminhoneiro,não pode estar de outra forma se não cheio de dinheiro e de sorte.Pois nem mesmo deu boa tarde,e já foi despejando cheia de orgulho e expectativa sua novidade em cima da primeira dama.

--A senhora sabe o meu cunhado Duca dona primeira dama?

-O caminhoneiro?-Passava os dedos magricelos e de unhas cor de vinho ,recém pintadas sobre as prateleiras,a fim de tirar a poeira de semanas ali instalada.

-o mesmo...

-Que tem ele Dulcineia?Virou o caminhão foi?quase ria,mas se conteve ao ver Lucia séria ao lado da irmã,do outro lado do balcão.

-Virou sim...-Lucia não se conteve,atropelou a irmã com raiva da primeira infeliz da cidade e ela mesma despejo com orgulho - Virou mas foi lá pras banda de nova Iorque sabe...

-O que?-A perua se aproxima incrédula.-O que você?

-O que a primeira dama ouviu minha filha...Meu cunhado Duca,o caminhoneiro mesmo,foi pra Nova Iorque,sabe onde fica?

-Mas é claro que eu sei onde fica.O que eu não sei,é como vocês duas esperam que eu acredite num disparate desses.

--Se não quisé num carece credita não,mas pra quem quer ver,eu tenho a prova.

-E que prova é essa,o sue atestado de loucura,ou de mentirosa?

-O relógio que ele me trouxe de presente,de Nova Iorque!-Exibia o pulso com orgulho,com orgulho e com raiva.

Com mais raiva,olhava a primeira dama,com mais orgulho acabava com a festa das sertanejas.

-Nova Iorque é?Meus parabéns,a essa cidade aí eu nunca fui mesmo,vocês me desculpem.

-Não to dizendo- Exibia-se Dulcineia agora.-Eu não falei que ele tinha ido pro estrangeiro?

-Nada disso,você falou foi que ele foi para Nova Iorque,e isso sim é verdade.

-E dá no mesmo não dá?-Se espanta a balconista.Será que sabia mais de geografia do que a mulher carioca do prefeito?

-Que ele foi para Nova Iorque tudo bem.que comprou essa coisinha vagabunda lá,também vá...Mas que seja estrangeira,isso não nem aqui,nem em Nova Iorque,e muito menos nos Estados unidos.

-Mas...mas...mas o que a senhora ta falando a final?-Lucia tentava,mas não entendia nada,muito menos Dulcineia.

-Ocê ta querendo é nos engana isso sim.

-Quem ta querendo te engana,é o seu marido.Ou isso,ou então você é mesmo uma burra,de pai,mãe,e conta própria...Esse relógio é de Nova Iorque sim sua boba.-Segura o relógio sobrando no pulso da pobre.-Mas é de Nova Iorque aqui do Maranhão criatura.Você não olhou o que ta escrito aí embaixo: “indústria brasileira”?Ou vai me dizer que não sabe ler?

Lucia atira os olhos sobre o dorso do relógio,Dulcineia acompanha,juntas com muita dificuldade.(pela falta de luz no local,mesmo em pleno dia, e pela falta de prática da leitura),vêem o orgulho ir embora,ir-se longe,para terras estranhas,terras estrangeiras,quem sabe Nova Iorque,a verdadeira Nova Iorque.

FIM

Diogo Machado
Enviado por Diogo Machado em 29/06/2012
Código do texto: T3752123