Lero-lero entre Adejante e Manezim sobre o futebol
Adejante tem estrada, Manezin andou pouco mas isso não inibe seu lado crítico e opina sempre que pode sobre acontecidos da política mas, é logo rebatido, porque Adejante não deseja levar adiante coisas corriqueiras e descarta a conversa do parceiro por julgar que o negócio é sem importância. O barbudo não vê graça nisso de comentar escândalos, improbidade administrativa, corrupção, crimes de pistolagem, cassação de mandato e tudo o mais que é muito corriqueiro nos noticiários.
Adejante está na dele, sempre escorado ao balcão tomando sua pura com limão enão se incomoda em ficar olhando a rua. Cumprimenta quem chega, mas não interroga ninguém, se limita a sorrir, a dizer algum bom dia e permanece no seu mutismo bem humorado. Já o Manezin quando chega é como quem está impaciente e demonstra grande necessidade de se expressar pela voz. Depois do caso dos peixes de nuvens que já faz certo tempo, eu os tenho visto, um e outro isolado, mas ontem encontrei os dois no local costumeiro, o bar central e como era cedo ainda pude presenciar um disse me disse dos dois. O caso foi sobre o jogo de futebol que tanto empolga os torcedores desse meu Brasil varonil. Como é sabido de todos, existem jogadores que são muito bem pagos por serem destaques nos seus times. O Manezim por ser um grande defensor das idéias de Lima Barreto é um grande detrator do esporte mais popular do mundo, e ele começa com pequenos toques o assunto, e pergunta se a gente não viu um jogador famosos sendo entrevistado num domingo desses na televisão, pois achou a apresentação uma pouca vergonha, “pra início de conversa aquele é um esporte muito violento e de gente desocupada, já morreu muita gente jogando bola”, e vai falando que é negócio tão sem futuro que o cidadão jogador, depois de certa idade é deixado de lado, ou seja, “o macabro espetáculo requer mesmo do praticante mais é a força bruta quase que somente”... porém o diabo do jogo exerce um fascínio e apaixona até grandes escritores como foi José Lins do Rego...contudo, com outros artistas como era o caso do Villa Lobos a coisa era vista com outros olhos. Prá o grande músico, esse esporte das multidões era um negócio inferior. Faz uma pausa e continua: não se sabe de nenhum médico no mundo que ganhe igual a um desses ditos craques fenômenos, que diga-se de passagem é muitas vezes até analfabeto, mas o povo sem cultura desse nosso país é quem é culpado disso acontecer, se ninguém pagasse pra ir vê-los jogando, aí o negócio era outro! Era bem outro! Se esses malandros dependessem só de mim morreriam todos de fome!
Adejante que em momentos assim gosta é de ouvir o sujeito dizer mais, escuta e aguarda, mas fica claro que o que Manezim quer, é ouvir alguém concordando com a sua opinião, e por conta disso há um intervalo de silêncio. Adejante vai iniciar o seu falar, mas ainda toma mais uma e diz: E o que você acha dos comentaristas de esporte que fazem programas de rádio, escrevem pra jornais e revistas e se exibem em televisão e internet, e o que você diz dos técnicos? Com isso Manezin pensa em ter encontrado um cúmplice no comentário e mais falante ainda diz que são um bando de bêstas, e mais otários ainda são quem os ouve ou lê, e muito do sem-vergonha também quem contrata técnico prá treinar gente, melhor se fosse pra treinar cavalos, adestrar cachorros... e eleva a voz para acentuar sua verdade e nem supõe o que vem por aí. Adejante sem alterar a voz diz tranquilamente que o gôsto da maioria pode e deve ser questionado, mas não deve ser refutado, e que se o futebol foi adotado e se tornou cada vez mais querido por aqui e pelo mundo, alguns bons motivos houve e hão. E se cala, prá ouvir mais, e o Manezim morde a isca, não pra apontar mais coisas negativas mas sim pra questionar agora o o calejado Adejante e diz: Pois me diga pelo menos um bom motivo se é que há, já que você diz que houve e hão! Nisso já noto que ele denota irritação e ironia, mas Adejante não é de se impressionar muito com isso e diz na maior tranquilidade: Esporte é esporte e faz bem pro corpo! passa-tempo é passa-tempo e isso diverte muita gente que trabalha!... e faz pausa, nisso noto que o olhar do Adejante se fixa bem no companheiro que é um inimigo ferrenho do labor, e se cala novamente, como a provocar a ira do poeta desocupado. Este por sua vez não quer encerrar o caso por aí e ainda fala mais coisas, que o tal jogo só serve pra enriquecer os banqueiros que compram e vendem jogadores pra clubes estrangeiros por milhões, e que mulheres famosas, as marias-chuteiras querem mais é estar coladas com os aloprados só porque ganham muito...fugindo um pouco das razões do esporte com essas explicações periféricas. Adejante diminui o tom da conversa dizendo pro companheiro que o futebol fascina o homem como a guerra, e que isso sempre existiu, isso do homem disputar, pra ver quem é o mais forte, o mais corajoso e intrépido. Mesmo assim compreendia porque ele, na condição de poeta era tão revoltado com isso, sabia que Lima Barreto falava mal desse jogo, sabia que muitos já haviam morrido jogando e outros torcendo ou brigando com as torcidas rivais, sabia que o jogador não precisa ser culto pra correr e ter habolidade com uma bola, e que os grandes investidores querem ganhar mais, e que o público é quem paga pra se divertir, e que algumas mulheres desejam quem é bem remunerado, e que técnicos e comentaristas também fazem parte da engrenagem dos lucros e até que juízes podem se corromper por serem comprados e por aí vai, mas uma coisa é certa e isso á inegável, esse esporte é querido pela massa popular, e isso é coisa do bicho homem, que está atrelado ao seu passado remoto de guerreiro e caçador, isso é como um arquétipo de sua mente, deu pra entender? Claro! Diz ele, que não era tão ignorante pra não entender isso, mas o negócio é que o povo é sem cultura e prefere um jogo a um bom livro... então Adejante toma mais uma vez a palavra e diz, que na Europa o povo é bem mais culto, mas mesmo assim gosta do futebol também, então não dá pra separar, já que tem gente de pouca cultura que admira e gente culta que também é fascinado pelos jogos. Manezim ainda resmungou que não podia aceitar que um jogador pudesse ganhar mais do que um médico, ao que Adejante ainda disse que uma coisa é diversão e outra bem distinta é a saúde, ninguém gosta de ficar doente, mas a maioria gosta de se divertir, seu Manué! e aí já vem uma pitada de ironia. Poeta velho suado, tá pensando que todas as coisas teem que ser como você quer? O futebol é uma realidade porque a maioria quer, pelo menos em matéria de democracia é assim, é ou não é? mas Manezin não confirma nada e diz que se tratando de política o povo também se vende e não deixa prevalecer a sua vontade, ao que Adejante diz que se a pessoa se vende foi essa a sua vontade, ora bolas e caçarolas! Nesse caso voce está sendo meio contrário a si mesmo viu Manezim! Mas o velho mamute não gosta do insulto e diz já vermelho de raiva que não aceita isso, mesmo sendo assim aqui e na Europa e que um dia a coisa vai mudar com certeza, ao que Adejante aproveita pra ironizar mais ainda, o chama de profeta insatisfeito e diz que ele, com toda sua prosaíca profecia, aceitando ou não, as coisas estão assim, foram assim e hão de continuar assim mesmo contra sua vontade e escalenos rgumentos... não vê que as pessoas gostam de se divertir cada um a sua maneira, e se a maioria gosta do futebol e você não, qual é o problema? Por acaso você conhece alguém que está insatisfeito por você gostar de ler livros? Diga-me, algum torcedor de futebol já lhe convidou prá você ir torcer pelo time dele? E se isso aconteceu, você foi obrigado a ouvir sermão dele tentando convertê-lo? Então meu caro, porque se incomoda tanto com esses práticas comuns? Deixe o futebol pra quem gosta dele e vá ler seus livros e escrever seus poemas! Que tempo pra isso você tem bastante, deixa eu tomar minha cana e fala uma novidade aí bicho ramerrão!...