Doces Lembranças
Lembro-me de vê-la ainda sentada em sua cadeira,à porta da sala, pensamento perdido, olhando o chão. Sentava a seus pés sorrindo, e perguntando alguma coisa qualquer iniciava um diálogo já conhecido.
As lembranças jorravam como cascatas, e traços de um passado esquecido ia tomando forma pelas descrições de vovó. Lugares distantes, um tempo longinquo,onde as horas não eram contadas no relógio, as conversas se passavam a beira de fogueiras e ao som de violas. Personagens engraçados, amores adolescentes, beijos roubados...
O rosto já marcado pelas rugas da idade reflete agora um brilho, um misto de alegria e saudade, um reviver.
Dou- lhe um beijo na testa e um abraço carinhoso. Penso em como era essa senhora que tanto me ama, a décadas atrás, se sofria os mesmos conflitos que hoje eu sofro. Levanto-me e despeço deixando-a mergulhada em seu silêncio ''barulhento'' de muitas lembranças.
Sei que um dia eu não mais encontrarei essa imagem, ela sentadinha, à porta da sala, nem teremos diálogos, já tão conhecidos, mas sempre bons de se ouvir, porque guarda em si um pouco de mim. A história de minha avó é parte de minha história também. E a certeza dessa ausência iminente causa um doloroso vazio em meu coração.
Faço uma prece ao céu agora. Deus, permita que ela permaneça aqui mais um tempo, e que relembre, e que mesmo repetida, suas histórias me emocionem. Que ela permaneça comigo, e suas mãozinhas frágeis,mas tão protetoras, que me embalaram tantas vezes, afague o meu coração.