QUASE MÉDICA

Todas as vezes que me perguntam qual é a minha profissão, digo logo:

-Sou quase médica.

-Como assim?!

-Letra feia eu já tenho. Só me falta estudar, passar no vestibular e cursar uma faculdade de medicina.

Há alguns anos, nossa filha do meio trouxe uma coleguinha para estudar. No dia seguinte, a menina telefonou:

-Alô! Gisele?

-Fala, Dé!

-Estou te ligando para pedir a receita daquele bolo delicioso, de chocolate, que sua mãe nos serviu no lanche.

-Espera um pouquinho. Vou pegar o caderno de receitas.

Pronto. Escreva aí: quatro ovos, três colheres de sopa de manteiga, duas xícaras de açúcar, duas xícaras de leite, trigo, ovos poucos...

-Calma aí, Gigi. Você já disse quatro ovos. Essa paradinha de “ovos poucos”, quantos você acha que eu devo pôr?

-Ah... Coloca mais dois, três, sei lá.

Uma semana depois.

-Mamãe, coitadinha da minha colega!

-Uai! O que aconteceu com a Andréia, meu Deus?! Tão cheia de vida!

-Não aconteceu nada. Foi o bolo, que eu ditei por telefone. Ela disse que ele ficou horrível.

-Você ditou certinho, Gisele?

-Claro! Tive dúvida só na quantidade de ovos.

-Mas está escrito quatro ovos, filha.

-Eu vi. Só não sabia quantos “ovos poucos” ela teria que colocar a mais.

-Não, Gigi. É para colocar o trigo aos poucos.