SONHO IMPOSSÍVEL

SONHO IMPOSSÍVEL

- Mama! Está na hora. Andiamo via, o avião parte às dezessete horas.

Tercília e Donata eram duas irmãs moradoras em Espírito Santo do Pinhal. No interior de São Paulo, bem perto de Mogi Guaçu. Indolentes, vida monótona de cidade pequena, viam o tempo passar, da mesma maneira que o voar de uma garça. Batidas de asas ritmadas e vagarosas. Trinta e cinco e trinta e três anos de vida as idades das duas, sendo Tercília a mais velha. Solteironas!

Passavam o tempo ora costurando, ora fazendo tricô, ora na cozinha.

Agora, do que elas gostavam mesmo, era de um bom prato. Comer. Daí serem muito boas cozinheiras. As duas se completavam. Enquanto uma se dedicava aos pratos de panela, a outra estava de olho no forno. Num banquete não tinham concorrentes. Sempre eram requisitadas para servir em casas particulares, em jantares festivos, bem como, em eventos de maiores proporções, festas de clubes, almoços beneficentes.

O grande problema que as duas enfrentavam estava no peso. Ambas obesas! Obesidade mórbida! A mais nova, Donata, pesava 130 quilos, enquanto Tercília um pouco menos, 126.

Sempre andavam às voltas com regimes. Todavia, na primeira oportunidade o desejo de comer vencia.

Filhas de imigrantes italianos, tinham como grande sonho conhecer a Itália, principalmente a Calábria, de onde seus pais saíram. Tudo, ou quase tudo que ganhavam, depositavam em caderneta de poupança, com a finalidade de realizarem a tão sonhada viagem.

Ultimamente, estavam entretidas em conhecer detalhes da Itália. Adquiriram mapas, roteiros de viagem pelas mais variadas regiões italianas, suas características, costumes. Inclusive, se matricularam num curso da língua de Dante Alighieri. No Circolo Italiano da cidade. Tinham certa facilidade em aprender, pois, em casa, nos diálogos entre os pais, e destes com elas, usavam muito as expressões idiomáticas daquele país.

Então, começaram a providenciar o necessário para a viagem.

Primeiro, o passaporte. Como em Espírito Santo do Pinhal não havia o órgão expedidor desse documento, foram obrigadas a ir a Campinas, onde existia uma Delegacia da Polícia Federal. Assim fizeram, porém, devido o acúmulo de pedidos, somente foram chamadas para a entrevista no órgão competente, após quase dois meses do pedido. Finalmente, dias depois da entrevista, as duas estavam de posse dos documentos. A mãe, que também pretendia ir, possuía o passaporte italiano.

Com os documentos em ordem, somente faltavam as passagens. Decidiram comprar um pacote de viagem em grupo. Seria mais fácil, não havendo confusões quanto ao transporte durante o passeio, a hospedagem, a comunicação, e demais detalhes. Teriam de se submeter a um roteiro que poderia não ser do agrado delas. Porém, conheceriam outros lugares não previstos, o que sempre se tornava interessante.

Dessa forma, naquele dia em que apressavam a mãe, estavam com as malas prontas. Eram sete horas da manhã. Deveriam pegar um taxi que as levaria até Campinas, ao aeroporto de Viracopos, de onde partiria o avião. Alitalia a companhia aérea. A viagem de Pinhal até Campinas foi um sofrimento para as três. A expectativa era imensa.

Nunca haviam viajado de avião. A ânsia de conhecer o país de seus ancestrais. A mãe, que viera da Itália de navio, em rever sua amada terra, seus parentes que lá ficaram. Tudo levava as três a estarem num estado de nervos impossível de ser contornado.

Chegaram com tempo no aeroporto, dando, até mesmo, para o almoço antes de se apresentarem para o “check in”. Quase nem comeram! Tão nervosas se sentiam.

Às duas e meia estavam na frente do balcão da Alitalia, sendo atendidas. Apresentaram os documentos exigidos. Antes de entregarem as malas, estranhamente a funcionária da companhia aérea pediu-lhes que aguardassem um instante, até que ela voltasse.

Assim que retornou, a funcionária solicitou-lhes a presença na sala do diretor da Alitalia.

Foram, então, informadas por ele, de que não poderiam embarcar na aeronave.

- Mas, por quê?

- Excesso de peso!

- Como, se as malas nem foram pesadas, ainda!

- Sim, mas o excesso de peso não é delas. É de vocês duas!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 23/06/2012
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