DON JUAN!

DON JUAN!

I

Como médico tinha uma clínica das mais modernas de São Paulo. Situada nos Jardins, zona chique, possuía uma clientela frequentada pela alta sociedade da Capital. Só madames.

Antes, é preciso descrever a origem do famoso médico.

Nasceu ele em uma pequena cidade do interior. Os pais, de descendência árabe, possuíam um comércio na localidade. Um verdadeiro supermercado, desses armazéns onde se encontra, desde uma agulha, até lanchas de médio porte. Sem exagero, pois a cidade, banhada pelo Rio Tiete, onde este formava uma enorme represa, era reduto de praticantes dos esportes náuticos.

Abrão, seu nome, filho mais velho do casal, sempre foi um menino muito mimado, sua mãe costumava vesti-lo com esmero, de forma que, ainda imberbe, atraia as garotas de sua idade, e, até mesmo, as mais velhas. Tímido. Apesar de não se apegar aos galanteios, vivia rodeado pelas meninas. Nos bailes, sendo bom dançarino, não tinha descanso. Sempre um dos mais requisitados.

II

Indo para a cidade grande, a capital de São Paulo, fez o curso de medicina na USP. Formado, Abrão foi fazer residência na área de ginecologia e obstetrícia. Após, partiu para os EUA, a fim de fazer especialização numa área que sempre o seduziu: reprodução humana “in vitro”. Escolheu Houston, no Texas. Fez um curso brilhante, conseguindo os maiores títulos na matéria.

De volta ao Brasil, não foi difícil estabelecer-se com consultório em região nobre da capital. E ter uma clientela das mais concorridas.

Sua fama logo se espalhou pelo Brasil inteiro. De todos os cantos do país vinham mulheres com o intuito de se tratar com ele. Até mesmo do exterior. Tratava de problemas da gravidez, de infertilidade, tudo ligado às dificuldades da mulher gerar.

Todavia, um aspecto o preocupava. Possuindo a figura de homem bonito, que nunca deixou de ser, exercia forte atração nas mulheres.

Apesar de sua condição de homem casado, diversas delas não conseguiam se conter, e viviam pressionando o pobre do Abrão. Raro o dia em que não recebia convites para encontros mais íntimos. Porém, devido à sua formação de homem íntegro, respeitador, de marido que não traia a mulher, seguia resistindo.

Até quando?

Nessa altura, sua esposa veio a falecer.

III

Quando todo mundo pensava que Abrão iria sucumbir em decorrência do assédio que sofria, isso não aconteceu.

Permanecia fiel ao juramento de Hipócrates. Afinal de contas, era um pai de família, e se fosse cair na tentação à qual vivia pressionado, perderia todo o respeito como profissional, colocando em risco sua reputação e sua carreira.

Então, o incrível aconteceu!

Não aguentando mais toda a pressão por suas clientes exercidas, não teve outra saída! Dirigiu-se à Delegacia de Polícia mais próxima, e fez um boletim de ocorrência, alegando ser vítima de assédio sexual por parte de diversas de suas clientes. Enumerou-as todas, mais de sessenta, dando seus nomes.

O caso transformou-se num rumoroso processo. Várias figuras representantes da melhor sociedade paulistana, e de outros Estados, viram-se envolvidas. Foram obrigadas a comparecer em juízo, a fim de prestar depoimento. Um vexame!

Todos os jornais do país, televisão, rádio, exploraram ao máximo o caso.

A situação do famoso médico tornou-se insustentável. Ele mexera com famílias poderosas.

Não houve outro jeito!

Teve que sair do Brasil, partindo para um lugar desconhecido.

Ninguém nem imagina seu destino.

Há pouco tempo, curiosamente, não se sabe como, chegaram notícias do mesmo, dando informações de que, casado novamente, sua esposa está esperando filhos. Gêmeos!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 21/06/2012
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