ESCABECHE DE BETA
ESCABECHE DE BETA
“Os seres humanos têm o costume de atribuir aos outros animais, e às vezes até a objetos, os mesmos sentimentos e necessidades que nos caracterizam.(Alberto Vasconcelos)
O pai, Firmino, pescador não daqueles fanáticos. Nem mentiroso. Quando em atividade no seu trabalho, juntamente com alguns colegas, vivia participando de pescarias, preferencialmente no mar, na beira da praia, ou nas pedras, onde os mariscos se incrustam. Apenas uma vez, em Aruba, se dispôs a entrar numa lancha, indo para o alto-mar. Na realidade, era ele um grande medroso. Somente, entrava na água, onde lhe dava pé. Até em piscina.
Chegou a ir, em três ocasiões, ao Pantanal de Mato Grosso do Sul. Somente uma vez arriscou em subir num barco. Sempre preferiu a segurança do barranco, submetendo-se a fisgar apenas peixes de menor porte.
Atualmente, não tendo mais idade para maiores aventuras, Firmino se contenta em frequentar pesqueiros, ou os chamados pesque-pagues.
Isso tudo conto, para demonstrar a afinidade que o Firmino possui com esse animal. Quando seus filhos ainda eram crianças, um dos sonhos dele era ter um belo aquário em sua casa. Com a intenção de que eles viessem a ser, também, amantes da espécie, e pescadores. Mas, a mulher, Domícia, inflexível, sempre foi contra. Não aceitava qualquer animal em sua casa. Porém, de tanta insistência, concordou ela em ter um pequeno aquário, onde foi colocado um peixinho, o beta. Somente um, porque essa espécie não admite mais que um, num ambiente reduzido. Brigam até a morte. Segundo o Recantista Alberto, autor da frase acima, é um predador de insetos.
O bichinho era tratado como mandavam os entendidos. Comida em tal hora, quantidade bem controlada, troca de água regularmente. É preciso explicar, que na região onde Firmino mora, no ABC paulista, nos arredores da Serra do Mar, o inverno costuma ser um tanto quanto rigoroso, não chegando aos pés da região das serras catarinenses, porém, faz bastante frio.
Dona Domícia, apesar de não gostar, tratava bem o beta, preocupada com sua subsistência. No primeiro inverno que chegou, rigoroso para os padrões locais, sentiu que ele pudesse ficar mal, diante da água gelada. Numa primeira noite deu uma amornada na água, e assim o fez, por uns dois ou três dias. Até que, na manhã do quarto dia, qual não foi a surpresa, o beta estava boiando, de barriga para cima!
Mortinho!