MORGANA - 1 parte
I
Depois de rodar até ficar tonta, caiu na grama curta e verde do campinho perto da sua casa. Ali deitada, ficava a olhar o céu típico de uma manhã de primavera, embora fosse indiferente pra ela em que época do ano estava, o que realmente importava é que o dia estava lindo, o céu azul claro trazia algumas nuvens muito brancas, e era seu passatempo favorito descobrir nelas figuras de animais e outros objetos comum ou não ao seu dia a dia. Via-os ir embora, se desfazer como fumaça ou se transformar pouco a pouco em outra coisa. Quanto tempo passava assim? Desconhecia. O fato de ter apenas 5 anos lhe dava esse direito, nem sequer tinha noção que com essa idade uma criança merece estar aos cuidados de um adulto. Não era o caso dela. O pai levantava as cinco horas para trabalhar mas não sem antes levar pra ela na cama o dejejum, um café preto cheiroso e alguns bolinhos feito às pressas ao som de música regional. Mal sabia ela que essa seria a lembrança mais doce que guardaria da sua infância e de seu pai. Quanto a sua mãe, parece que foi passar uns tempos na casa de uma amiga, um fato totalmente normal para uma criança de cinco anos. Desde quando ficava sózinha era outro fato que desconhecia, mas parece que a solidão não a incomodava. Acreditava até, que todas as crianças do mundo ficavam por horas sem os pais ou qualquer outra pessoa.
De repente sua brincadeira de olhar as nuvens foi interrompida. "Morgana!" Chamava uma vóz impaciente! Como quem sai de um transe, ela demorou um pouco pra identificar de quem era a vóz, mas por fim, percebeu que se tratava de seu irmão que acabava de chegar da escola. Vinha esbaforido, com um pássaro preso em uma arapuca.- " não sabia que podia levar pra escola passarinhos e arapucas!" Pensou, ignorando o fato de que seu irmão já há muito tempo não aparecia na escola, saia todas as manhãs como de costume, mas preferia as 'aulas' de botânica, zoologia e biologia ao ar livre. "-Tô com fome, vamos comer algo" dizia Aldo que era bastante alto para os seus dez anos e talvez por isso tivesse tanta fome. Era capaz de comer sózinho e muito rapidamente dois pães bengala com mortadela. Morgana sacudiu a grama que estava no seu vestido, mas não lembrou de fazer o mesmo para tirar o capim de seus longos cabelos e saiu correndo atrás do irmão que ia bem a frente segurando a arapuca.
Com muito cuidado, Aldo transferiu o pássaro da arapuca para uma gaiola entre tantas que tinha em seu quintal. -"Vou conseguir um bom dinheiro com este aqui", dizia com entusiasmo. Morgana já tinha ido com Aldo para pegar passarinhos, mas ele prometeu que não a levaria mais porque ela não ficava quieta e atrapalhava muito. Isso sem contar que ele já tinha perdido muito dinheiro pelo fato de Morgana ter o péssimo hábito de abrir as gaiolas e soltar os pássaros, mas sua lógica era imbativel, eles tinham asas e dentro de uma gaiola não podiam voar.