Menino Raul

Era noite. Raul atravessava a rua. Dia chuvoso. Menino franzino e distraído, quem para ele olhava nada dava. Voltava o caminho de casa ao som da melodia das lágrimas do céu. Conforme andava, ria sozinho, com um riso sincero, riso de criança quando acha graça em algo.

Lembrava e ria, mas quando ria, pensava. Divagava nos seus dilemas, dúvidas e incertezas, em suas mazelas e no emaranhado de pensamentos que em determinados momentos afrontavam sua existência.

Mas o motivo do riso era muito singular. Eram as expectativas que tinham no pobre garoto. Família, amigos, colegas de trabalho, todos esperavam algo do menino. Sufocavam-no com suas ânsias e expectações, acelerando sua juventude.

Dentro de seu coração juvenil sentia que carregava o mundo nas costas. Sentia-se como o cavalo manco sem muita chance de ganhar a corrida - os apostadores não tinham ciência da sua deficiência - mas mesmo assim era a aposta de todos.

Raul ria, pois era conhecedor de si próprio. Sabia que não era e nem seria tudo o que as pessoas queriam e não teria tudo o que precisavam. Eles não conheciam Raul como o próprio Raul conhecia, mas ainda assim esperavam algo dele, por isso o garoto ria.

De algum modo o menino se sensibilizava e entendia aquilo como uma forma de responsabilidade. Talvez a justificativa que ele criara para si fosse de que eram pouquíssimos os que produziam algum tipo de esperança no seu semelhante.

Raul, Raul, Raul.. ah se soubesses o que o futuro de reserva!