O QUEIJO
O QUEIJO
O pai morreu há um bom tempo. Sem nunca ter bebido, de fígado empedrado. Cirrose!
Há mais ou menos dois meses, a mãe, já com mais de noventa anos, depois de longa enfermidade, foi desta para a melhor.
Então restaram as três filhas: Maria de Fátima, Maria do Rosário e Maria das Dores, pela ordem decrescente de idade. Sempre foi uma família bem esquisita, com poucas ou nenhuma amizade, raras vezes saindo dos limites do lar. E, olha que vinham de gente antiga de Santo André, gente tradicional.
Somente a mais velha das moças, a Fátima como era chamada, foi funcionária municipal. Rosário e Das Dores viviam única e exclusivamente dentro de casa, nos afazeres domésticos e cuidados com a mãe doente. Nenhuma casou!
Como era costume, dias após o falecimento da mãe, as moças iniciaram o rescaldo dos objetos pertencentes a ela. Foram juntando tudo, roupas, sapatos, objetos pessoais, a fim de serem doados a entidades beneficentes, asilos, casas de velhinhos mantidas pelo governo, que muito seriam de utilidade, em vista da proximidade da época de frio.
A presença disso tudo não fazia bem a elas. Seriam doadas às chamadas campanhas de inverno, a principal obra das primeiras-damas dos municípios, como sempre dirigentes do órgão social da administração.
Além da casa na cidade, a família possuía um apartamento na praia, usado nos períodos de calor, em férias e temporadas próprias.
Cá pra nós, gostaria eu de vê-las de maiô, shorts ou biquíni!!! Brancas sala de cirurgia, como falo para meu filho Cuca, anestesista, que nunca toma sol!
Então, determinado dia desceram para o litoral, com a intenção de executar idêntica tarefa da casa, no apartamento.
Acabado o serviço, ao retornar para casa, Fátima perguntou:
- Onde está o queijo? A resposta foi negativa. Ambas, Rosário e Das Dores não souberam responder. Procura de lá, procura daqui e nada!
Já desacorçoadas, resolveram. Pegaram o carro e voltaram para a praia, a fim de ver se lá estava o queijo!
Apenas, setenta quilômetros de distância! Ida e volta!...O dobro!