O VARÃO
Madalena queria muito ter um filho homem.
- Menino ou menina, Dionísio?
- Uma menina linda, Madá. É moreninha.
- Que bom! É você quem colocará o nome.
- Será o nome da finada minha mãe: Maria Emília.
Dois anos depois nasceu Heloísa Helena. Depois, Maria Madalena.
- Menino ou menina, Dió?
- É um menino bonito e forte. Deve pesar uns cinco quilos.
- Que maravilha! Chegou o meu menino tão esperado!
Foi uma festa naquela humilde casa. As meninas ficaram contentíssimas. O pai não saia de perto de Paulo Roberto, que reinou por dois anos.
Um dia.
- Dió, é menino ou menina?
- Mais uma menina, Madá.
- Já tenho nome para ela: Célia. Igual a filha do pastor da igreja que eu frequentava, antes de me casar com você e me tornar católica.
- Vamos colocar Anna também, que era a santa da devoção da mamãe.
Só o Paulinho não ficou feliz com a chegada da mana. Ele ficou com medo de perder o trono e, por isso, escondia-se debaixo da mesa e não comia nada, a não ser pão. Fazia dó vê-lo assim, triste e magrinho.
As meninas se revezavam nos cuidados com o único irmão. Ele dormia com Leninha e era muito apegado a ela.
Numa madrugada.
- Mamãe! Cocô!
- É o Paulo. Acende a luz, Dió. Ô meu Deus, estou tão cansada!
Os quartos eram de meia parede e uma luz só clareava tudo. Lena foi tirando o lençolzinho do berço e sujando os seus pequenos dedos.
A mãe foi ao quintal, buscou lenha, acendeu o fogo, esquentou a água, pôs na bacia e deram-lhe um banho. Passaram talco no garotinho e trocaram o pijama.
Mais tarde.
- Huumm... Que cheiro ruim! Acho que ele fez mais cocô, mamãe.
- Não fez, Leninha. O pijaminha está limpo.
- Então, que cheiro é este?
- Achei. É a cabecinha dele que está cheirando mal.
Elas não lavaram a cabeça dele com medo do ex-reizinho gripar. E aí começou a segunda seção de limpeza: esquentar a água, por na bacia...