Blues no shopping
Chegou. Era hora do almoço. Mas esse era o combinado. Deixou a bolsa no canto da mesa. Colocou o paletó. Agora a boina. Todos brancos, contrastando com sua pele. A gravata vem por último. Branca também.
Pega o instrumento. Lustra um pouco. Toca algumas notas, só para afinar o sax. Pede á atendente do balcão ali perto que cuide de sua bolsa.
Começa a tocar: "Carinhoso". Lentamente entra na praça de alimentação. Todos se empanturrando de comida. Ninguém sequer olha para o saxofonista passando pela mesa. Essa é a prova de que sou um artista de verdade, pensava, pois essa é a sina do bom artista: ser invisível até se tornar ausente.