CONTO DE DUAS VIDAS

1. O pensamento fluía naquela manhã chuvosa, enquanto Leila lentamente atendia o vermelho do sinal e parava o carro. Num repente, uma batida no vidro. Ela se voltou e viu o rosto moreno e magro de um rapaz. Ele mostrou uma pistola e apontou para a bolsa. Leila vivia um susto lento de terror. Não sabia o que fazer. O olhar frio do homem se desviou e guiou o olhar dela até a arma que lentamente engatilhou, depois abriu a outra mão em cinco e passou a esconder dedo por dedo numa contagem de vida ou morte, até que Leila abriu o vidro e, tremendo, entregou a bolsa. O bandido pegou rapidamente o objeto, olhou mais uma vez para ela e se foi lentamente entre os carros. O sinal finalmente liberou o transito, Leia acelerou pra vida. Pensou no filho de dois anos que num súbito poderia ficar sem a mãe. Chorou o pensamento e jamais esqueceu aquele olhar.

2. Murilo chegou naquele transito com a frieza de uma vida que já não valia a pena. O que aqueles “ricões” sabem da vida? Nada! Eles não sabem que tem gente excluída do meio nojento deles! Ajeitou o revolver, e esperou. Em momentos o sinal fechou. Era a hora! Escolheu uma morena, que dirigia um importado de luxo. Foi pra cima, se ela se mexer morre! Bateu no vidro, mostrou a arma. A mulher congelou. Pensou “vou matar esta FDP”. Engatilhou o revolver e esperou. Até que a “dona” entregou a bolsa. Pegou e se foi nutrindo o ódio pela vida e pelo mundo. O que ele não reparou foi que num outro carro alguém observava o movimento. Era Rubens, um policial aposentado que só esperou o momento certo de se aproximar e atirar em Murilo, que sangrou até a morte, agarrado a bolsa de Leila.