Alô, Dênis ?!

Marcava dez e quinze no relógio digital do forno microondas. Denis, sentado no sofá da sala, estava pasmo e ainda sem querer acreditar no acontecido, queriam apenas tirar um sarro com ele, não, não queriam. Estava perplexo e boquiaberto diante a confissão que Clotilde lhe fizera a vinte minutos. Ela, que há minutos era sua namorada, agora não passava de uma ex que viera lhe confessar naquela noite, com os olhos cheios de água e tremula, que no domingo anterior, aquele domingo que ela tinha lhe dito ter ido á casa de uma amiga de infância, pois é, esse domingo na verdade tinha sido o dia da mentira.

Na verdade, ela foi encontrar-se com Matheuzinho Playsson, um “amigo” de Denis, numa pizzaria com nome de fruta próximo a casa dele, “Banana...alguma coisa”, o nome da pizzaria. Fazia tempo que Matheuzinho Playsson “perturbava” Clotilde. Mandava-lhe chocolate, torpedo via celular, isso quando não a telefonava pela madrugava e passam horas conversando, rindo, sendo bestas, sendo bestas. Falavam de tudo. Futebol, cabelo, televisão, justin bieber, animais, ele dizia até que achava o nome dela bonito, de tudo, menos de Denis, e quando o papo entre os dois aproximava-se de um clima mais tenso, Clotilde dizia que estava com sono pedia pra ele desligar, e antes dele desligar pedia que ela sonhasse com ele (que brega!)

E assim não demorou muito até que o Playsson convidou-a para saírem, e foram pra pizzaria com nome de fruta, um jantar á dois. Ela de inicio ficou meio sem jeito, mas acabou aceitando o convite. O jantar foi divertido, e logo depois foram á sorveteria e, lá, aconteceu o esperado, entre os beijos e abraços, Clotilde lembrava-se do namorado que estava em casa estudando, que acreditara na mentira e confiara plenamente nela. Sentiu-se mal por estar trocando por alguns instantes alguém tão cabeça, inteligente e responsável por um moleque de brinco na orelha, tatuagem de dragão no braço magro e ossudo e cabelo de guachinin, tingido com água de salsicha. Que merda que ela estava fazendo ?

Pediu pra ir embora, ele pediu pra ela esperar mais um pouco, ela disse que queria ir naquele momento, e ele pôde notar a diferença na voz dela. Acompanhou-a até sua casa e ao tentar beija-la, ela virou o rosto, ela já tinha caído na real, pena que era tarde. Dormiu com a consciência pesada, e estava disposta a confessar-se, arrependida, para Denis. E assim ela fez, dois dias depois do acontecido. Denis continuou sentado, vinte, trinta, cinqüenta minutos depois de Clotilde sair chorando, arrasada e agora sabendo que era apenas uma ex. Tudo que ele ouvia era apenas o barulho dos carros que passavam na rua, velozes e furiosos, assim como os pensamentos que passavam agora em sua mente. Pensou em fazer bobagem, em arranjar uma arma, em mandar dar uma surra no excomungado que dizia-se seu amigo, em fazer-lhe uma macumba, entre outras besteiras. O que deveria fazer ? Parou,respirou, pensou. – Que merda estou pensando cara, me sujar por causa de dois emprestáveis que não valem nem o que eu dou descarga ! Sou melhor que isso, melhor que eles, e quer saber, vou fazer melhor ...

Sentado mesmo onde estava, virou-se e pegou o telefone na sua direita, sobre o criado mudo. Tomou uma decisão que achou inteligente, e realmente foi, ligou para o seu “amigo”, o filho da ... do seu amigo Playsson. O telefone chamou uma,duas,três, sete vezes até cair na secretária eletrônica. Denis deixou um recado para o amigo:

-Alô, Matheuzão ? Firmeza né meu filho ? Tudo massa ! Cara, sabe quem veio aqui em casa á pouco ? A Clotilde, aquela minha ex-namorada, acho que tu a conhece, ela até falou de ti ! Frango com catupiri, cara, essa é a minha favorita, e acho que é a dela também, acertou em cheio moleque ! Creme com passas e delicia de abacaxi, puts, muito bom mesmo, isso tudo em uma noite pira qualquer mina né ! Pena que não pagou o arrependimento dela, coitada cara, chegou aqui em prantos me contando da fugidinha de vocês, na merda que ela estava na cabeça quando aceitou sair contigo, um moleque desempregado e sem perspectiva de futuro, que só pensa em farra e swingueira. Mas quem diria em cara, logo tu que até me chamar de irmão já me chamou um dia, mas pensando bem, acho mesmo que vocês se merecem, eu é que não quero mais nem conversa com gente da laia de vocês, e faz só um favor pra mim, se me ver na rua faz que nem me conhece valeu prego ! Ah, E boa sorte pra vocês, acho que enfim a pobre Clotilde encontrou o Seu Madruga que ela merece ! –Desligou !

Do outro lado da linha, ouvindo tudo pela secretária eletrônica e saindo do banho, Playson corria pro telefone desesperado tentando retornar pra o “amigo” para explicar tudo.

- Alô, Denis, eu posso explicar cara !

Alex Costa
Enviado por Alex Costa em 01/06/2012
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