CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXV – Cuité (PB) – Recordações
CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXV – Cuité (PB) – Recordações
No carnaval de 1972, Nobre e dona Adijanir resolveram fazer uma surpresa ao povo amigo de Cuité, numa prova de que gostavam de lá e que estavam com saudades. Programaram uma viagem de automóvel de Bacabal, onde agora estavam morando, de sorte a chegar à cidade no primeiro dia de momo, no sábado. Como fazê-lo sem serem notados? Quando vissem a placa do carro logo saberiam de quem se tratava. Então, como na época quem mandava no interior eram o Juiz, o padre, o delegado, o prefeito e o gerente do banco, conseguira uma licença na Delegacia de Transito do Maranhão no sentido de viajar com o carro sem a placa. Dera certo.
Fantasiados de ursos com material oriundo do sisal (principal produto agrícola da cidade de Cuité), e mascarados entregaram um bilhete na portaria que dizia mais ou menos o seguinte: “Somos conhecidos, não tenham receio, logo nos identificaremos”. Isso gerou uma preocupação enorme para a diretoria do clube. Aconteceram uns disparos de arma de fogo por perto, no dia anterior, e chegaram a imaginar que os “invasores” poderiam estar envolvidos. Então ficaram perseguindo os dois carnavalescos no salão não os deixando em paz, até que não mais suportando a pressão tiveram de retirar as máscaras para alívio geral. E a festa continuou madrugada adentro. Retornaram logo depois. Um sucesso.
Quem não se recorda do fotógrafo Zuzu? Falou em fotografia era com ele mesmo, sempre estava pronto a servir. Era praticamente o único da cidade. Jogos do Expressinho ele comparecia e batia fotos por encomenda, afinal todos queriam uma recordação para mostrar aos netos futuramente. Parece que torcia pelo adversário, o Cuité Clube, mas na hora de faturar isso não contava. As fotos eram de boa qualidade. Nunca mais tivera notícias dele. A última fora de que havia feito o vestibular para “Direito” em Campina Grande, deve ser advogado hoje em dia.
Um detalhe que não poderia ficar despercebido é que Nobre e família, quando de sua chegada a Cuité, ficaram hospedados temporariamente na pensão de Dona Isaura, localizada no fim da rua do banco. Mas havia também a pensão de “Da Luz”, que procurava, a exemplo de sua concorrente, e na ausência de hotéis dar o melhor de si para hospedar os clientes. Tudo faziam para agradar.
O colega Gilberto Maia havia comprado um aparelho Philips daqueles três em um de som espetacular, moderno, bonito e isso gerou certa inveja por parte do Nobre, que resolvera comprar do mesmo. Afinal era fanático por músicas de antigos seresteiros, considerados “bregas”, como Nélson Gonçalves, Orlando Dias, Roberto Silva, Orlando Silva, Waldick Soriano e tantos outros que residem agora em outro mundo, e o pior é que não deixaram substitutos. Gostava de ouvir as músicas com muito volume, até mesmo para se mostrar, digamos assim, para que o povo visse que também possuía tal equipamento.
Morava coladinho ao banco no lado esquerdo, enquanto que o Dr. Juiz de Direito, cujo nome não quis revelar, no lado inverso. Dona Adijanir, sua esposa, viajara ao Recife para fazer exames médicos e rever seus pais. Lira e Maia também estavam solteiros. Então aproveitaram, “roendo” e danaram-se a ouvir aquelas canções românticas-bregas, na calçada, regadas a uma “lourinha suada”. O som estava incomodando o sono do Juiz, nem se atentou para isso. No outro dia, pela manhã, ele vai à gerência e entrega o Nobre, que fora chamado. Desabafara: “Então Dr. Juiz custava nada o senhor mandar um simples recado para que até desligasse o aparelho? Quando o senhor precisou de mim para ajudá-lo nas eleições eu o fiz sem titubear, eu o considerava meu amigo, mas querendo me prejudicar por uma besteira dessas”? A denúncia não dera em nada, mas passou a ignorar tal autoridade, nem se falavam mais.
Num dos últimos jogos que o Nobre fizera pelo Expressinho, contra um clube de Nova Floresta, município vizinho, apitara a partida o desportista conhecido como Tino, até bem entendido de futebol, um matuto forte e disposto ao que desse e viesse. Era da cidade do adversário e começara a “puxar” para o seu lado escandalosamente. Severamente vigiado, o centroavante deles, Orlando, não se achava, suas jogadas não prosperavam, isso porque havia uma marcação cerrada. Mas num descuido, fizera um gol em completo impedimento. Validado, quem manda é o árbitro, Nobre chegou junto a ele e reclamou dizendo que era muita coragem “roubar” em pleno campo do Jaime Pereira com uma torcida tão grande; se ele não tinha medo disso... Ficou de lado e mostrara uma senhora “doze polegadas” afiada dos dois gumes. Pronto, não está mais aqui quem falara, disse lhe.
Contam que o gerente do banco, de então, era metido a conquistador, triste da mulher em que ele fixasse seus olhos de cima a baixo. Dizem que, devidamente combinado com o encarregado da empresa energética do lugar, conseguira que as luzes da cidade fossem apagadas por cerca de três horas, à noite, a fim de que pudesse entrar na casa de uma senhora sem que ninguém o visse. Um artista... Mas deu azar... Alguém notara... E o assunto ficou sendo “ordem do dia”, tomou conta geral da população. Fora transferido para outra agência.
Fantasiados de ursos com material oriundo do sisal (principal produto agrícola da cidade de Cuité), e mascarados entregaram um bilhete na portaria que dizia mais ou menos o seguinte: “Somos conhecidos, não tenham receio, logo nos identificaremos”. Isso gerou uma preocupação enorme para a diretoria do clube. Aconteceram uns disparos de arma de fogo por perto, no dia anterior, e chegaram a imaginar que os “invasores” poderiam estar envolvidos. Então ficaram perseguindo os dois carnavalescos no salão não os deixando em paz, até que não mais suportando a pressão tiveram de retirar as máscaras para alívio geral. E a festa continuou madrugada adentro. Retornaram logo depois. Um sucesso.
Quem não se recorda do fotógrafo Zuzu? Falou em fotografia era com ele mesmo, sempre estava pronto a servir. Era praticamente o único da cidade. Jogos do Expressinho ele comparecia e batia fotos por encomenda, afinal todos queriam uma recordação para mostrar aos netos futuramente. Parece que torcia pelo adversário, o Cuité Clube, mas na hora de faturar isso não contava. As fotos eram de boa qualidade. Nunca mais tivera notícias dele. A última fora de que havia feito o vestibular para “Direito” em Campina Grande, deve ser advogado hoje em dia.
Um detalhe que não poderia ficar despercebido é que Nobre e família, quando de sua chegada a Cuité, ficaram hospedados temporariamente na pensão de Dona Isaura, localizada no fim da rua do banco. Mas havia também a pensão de “Da Luz”, que procurava, a exemplo de sua concorrente, e na ausência de hotéis dar o melhor de si para hospedar os clientes. Tudo faziam para agradar.
O colega Gilberto Maia havia comprado um aparelho Philips daqueles três em um de som espetacular, moderno, bonito e isso gerou certa inveja por parte do Nobre, que resolvera comprar do mesmo. Afinal era fanático por músicas de antigos seresteiros, considerados “bregas”, como Nélson Gonçalves, Orlando Dias, Roberto Silva, Orlando Silva, Waldick Soriano e tantos outros que residem agora em outro mundo, e o pior é que não deixaram substitutos. Gostava de ouvir as músicas com muito volume, até mesmo para se mostrar, digamos assim, para que o povo visse que também possuía tal equipamento.
Morava coladinho ao banco no lado esquerdo, enquanto que o Dr. Juiz de Direito, cujo nome não quis revelar, no lado inverso. Dona Adijanir, sua esposa, viajara ao Recife para fazer exames médicos e rever seus pais. Lira e Maia também estavam solteiros. Então aproveitaram, “roendo” e danaram-se a ouvir aquelas canções românticas-bregas, na calçada, regadas a uma “lourinha suada”. O som estava incomodando o sono do Juiz, nem se atentou para isso. No outro dia, pela manhã, ele vai à gerência e entrega o Nobre, que fora chamado. Desabafara: “Então Dr. Juiz custava nada o senhor mandar um simples recado para que até desligasse o aparelho? Quando o senhor precisou de mim para ajudá-lo nas eleições eu o fiz sem titubear, eu o considerava meu amigo, mas querendo me prejudicar por uma besteira dessas”? A denúncia não dera em nada, mas passou a ignorar tal autoridade, nem se falavam mais.
Num dos últimos jogos que o Nobre fizera pelo Expressinho, contra um clube de Nova Floresta, município vizinho, apitara a partida o desportista conhecido como Tino, até bem entendido de futebol, um matuto forte e disposto ao que desse e viesse. Era da cidade do adversário e começara a “puxar” para o seu lado escandalosamente. Severamente vigiado, o centroavante deles, Orlando, não se achava, suas jogadas não prosperavam, isso porque havia uma marcação cerrada. Mas num descuido, fizera um gol em completo impedimento. Validado, quem manda é o árbitro, Nobre chegou junto a ele e reclamou dizendo que era muita coragem “roubar” em pleno campo do Jaime Pereira com uma torcida tão grande; se ele não tinha medo disso... Ficou de lado e mostrara uma senhora “doze polegadas” afiada dos dois gumes. Pronto, não está mais aqui quem falara, disse lhe.
Contam que o gerente do banco, de então, era metido a conquistador, triste da mulher em que ele fixasse seus olhos de cima a baixo. Dizem que, devidamente combinado com o encarregado da empresa energética do lugar, conseguira que as luzes da cidade fossem apagadas por cerca de três horas, à noite, a fim de que pudesse entrar na casa de uma senhora sem que ninguém o visse. Um artista... Mas deu azar... Alguém notara... E o assunto ficou sendo “ordem do dia”, tomou conta geral da população. Fora transferido para outra agência.
Por hoje é só.
Em revisão.
Na foto: da esquerda para a direita, a esposa do Brilhante, a do Frazão e a do Nobre, isso no carnaval de Cuité, de 1972.