CONTO - NOBRE, Uma lição de vida – Parte XXIV – Cuité (PB) - Solidariedade.
 

CONTO - Nobre, Uma lição de vida – Parte XXIV - Cuité (PB) - Solidariedade.
           

          Quem não se lembra em Cuité (PB) e adjacências do subgerente baixinho, José Brilhante, cearense, que houvera tido um derrame e, de repente, dera um branco em sua cabeça, de nada se lembrava, foi preciso muito esforço e paciência de sua parte para começar praticamente do zero a voltar ao normal, como ler e escrever, por exemplo. Os trabalhos que exercia no Banco do Brasil limitavam-se à contabilidade e à chefia do pessoal. Era o que se pode chamar de um símbolo de dedicação, de simplicidade, de companheirismo e de absoluta confiança de todos os seus subordinados.

            Sendo o responsável pelos serviços contábeis o era também pelos balancetes e balanços diários, mensais e semestrais. Parece que residia aí a sua maior dor de cabeça. O banco dava somente dois dias para que ditas peças contábeis fossem remetidas à Direção Geral, chovesse ou fizesse sol, não haveria desculpas, sob pena de punição. E era complicado porque até soma algébrica dos números das contas existia. Seu sofrimento era patente no término de cada mês.

           Numa ocasião dessas, ao descer da Carteira Agrícola, Nobre notara, claramente, o ar de tristeza do companheiro: Desânimo, macambúzio, sem graça, “no mato sem cachorro”. Resolvera então perguntar o que estava acontecendo: -- Rapaz o Guerra mais uma vez não veio ao expediente e não tenho como preparar o balancete... Todos os meses ele faz isso comigo, é uma sacanagem, nada fiz contra ele, mas não gosta de mim, no que o Nobre retrucara: -- Mas Brilhante porque você nunca me disse isso, afinal sou seu substituto... Olha, são 18.00 horas, vamos tomar café em casa e retornar dentro de uma hora para preparar o balancete; Quero só uma coisa, que você traga um vidrinho de Nescafé, açúcar e uma garrafa térmica, porque fumo muito e o cafezinho é indispensável. – mas quem vai bater o balancete? – Eu já tenho experiência nisso, respondeu-lhe o Nobre, aprendi em Limoeiro (PE), não tem dificuldade alguma.

            Na hora marcada, tudo pronto, o semblante dele já era completamente outro. “Olha Brilhante você é meu amigo, estou aqui para servir ao banco, além do mais é meu companheiro de “Brahma”, criamos uma sólida amizade, minha mulher muita amiga da sua, não tenha receio de me pedir ajuda nas horas mais difíceis, falara Nobre”.

            Pois bem, entre um cafezinho e outro, um cigarro da Souza Cruz, tal de “Charme”, o balancete foi concluído às 04.00 horas da manhã, tudo certinho. Era somente assinar e mandar acordar o gerente Caldeira para que também o fizesse de modo a que não se perdesse a saída da “sopa”, o ônibus que saía às 06.00 horas com destino à cidade de Campina Grande, que era a centralizadora dos malotes. Tudo pronto, documento enviado, fomos pra casa e retornamos às 07.00 para o expediente normal. Aliás, falando em ônibus, só havia um fazendo a linha, a volta era às 17.00 horas, mas chegava por volta das 19.00, duas horas de estradas ruins. Esse carro trazia, diariamente, o jornal “O Globo” e também “queijo” de primeira qualidade exclusivamente para o bancário Barros, diretor do Cuité Esporte Clube.

            Quando Guerra chegara no dia seguinte, e com aquele sua pompa, foi logo se preparando para a elaboração do dito documento. Brilhante lhe dera a notícia de que tudo já havia sido feito e remetido à Superior Administração, porquanto não era ele somente que sabia fazer o referido serviço, todos no banco tinham a mesma capacidade, embora fosse ele o encarregado de fazê-lo todos os dias. Nobre pensara baixinho: “Se ele fizer isso comigo quando estiver na substituição do subgerente eu o coloco à disposição da Sede contando tudo do que é capaz”. Não deu outra, “prego batido ponta virada”. Fora transferido para o Rio Grande do Norte e depois demitido do Banco. Geraldo Maurício ainda era o Gerente da Agência, depois fora guindado para Brasília, na Diretoria de Operações, comandada pelo extraordinário Dr. José Aristófanes Pereira.

            Depois disso os serviços passaram para o colega Basílio, funcionário de primeira grandeza, de uma capacidade extraordinária, seguro no que fazia, mas de uma simplicidade fora do comum. Nunca mais chegara reclamação alguma de Brasília sobre falhas nos balancetes, fora confeccionado até mesmo na agência um modelo que denominara “detector de erros”. O Basílio era também um dos componentes da equipe de futebol do Expressinho e do futebol de salão, “pau pra toda obra”.

            Veio a Copa do Mundo de 1970. Apesar da altura em que se localizava a cidade – mais de 700 metros acima do nível do mar – a recepção de TV era horrível, chuviscava demais, não se delineava bem as imagens. Algumas pessoas iam ver os jogos em Campina Grande, outras em Picuí, etc. Mas em determinados pontos chegava sinal de melhor qualidade. De vez em quando corria um e falava: na casa de fulano a imagem está ótima; no clube está parecendo cinema; na casa do Dr. Roberto e no hospital também... E todos corriam para não perder sequer um lance, um gol, não havia “repeteco”. Perdendo só recuperava vendo o “tape” à noite.
 
            O Afonso era o presidente do Cuité, clube social, onde se realizavam os encontros dançantes, bailes e carnaval. Gente de boa qualidade, camarada, cedia as dependências sem esnobar, era o único da cidade, embora o Expressinho em sua modesta sede social também programasse domingos dançantes após os jogos, utilizando-se do aparelho de som do ex-presidente Nobre, que renunciara, embora para todos os cuiteenses ele ainda o fosse.
 
Ansilgus
Em construção/revisão.
Na foto, na parte inferior, vemos o Lira, Brilhante, o notável inspetor José de Britto Freitas, sergipano, que Deus já levara para o seu convívio, o gerente Caldeira e o grande funcionáraio Frazão.
ansilgus
Enviado por ansilgus em 28/05/2012
Reeditado em 28/05/2012
Código do texto: T3691914
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