CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXIII – Relembrança – Bacabal (MA)
 

CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXIII – Relembrança – Bacabal (MA)
 

A introdução dos produtos Antarctica em Bacabal (MA)
           
            
          A vida continua. Miguel Alves Ribeiro, pernambucano que fora morar em Bacabal com sua esposa, Dona Auxiliadora, formando um casal de primeira qualidade, era um pequenino comerciante de diversos produtos populares do lar. Tinha tino comercial. Na época estava fervendo o comércio de “Jurubeba”, bebida que servia para tudo, até para abrir os apetites, quaisquer que fossem! Quem batia o recorde de vendas era a Jurubeba “Indiana”. Miguel passara a vender marca similar “Galvão”, chegando-se a fazer certa confusão entre os consumidores quando se dizia: “A Galvão é a única jurubeba indiana legítima”. Terminavam comprando das duas. 
          
           A abertura por que passava o Banco do Brasil na cidade o chamou atenção. Foi visitar o Nobre desejoso de fazer sua ficha cadastral, porquanto pretendia melhorar suas condições e até mudar de ramo se fosse necessário. A esposa do Nobre fizera uma boa amizade com a Auxiliadora, e fora até uma espécie de madrinha no convencimento do marido a respeito das informações cadastrais. Quis o destino, infelizmente, que esse casal tão lindo se divorciasse.

            
           Organizada a ficha em pouco tempo, eis que chega à filial um pedido de informações do BB Recife, a fim de atender solicitação da Cia. Antarctica, a propósito da sociedade e da pessoa de Miguel, que pretendia representar a grande empresa no mercado de Bacabal e adjacências. Meu Deus!...Como fazê-lo?...A firma é tão insipiente, sem capital de giro expressivo, sem experiência no ramo! Homem sério, que contou com o apoio do Clayton, colega subgerente do Nobre, as informações da agência resultaram no sucesso de sua aspiração. Era bom que o ajudasse, pois afinal a concorrência é sadia na atividade comercial. E só havia a Brahma naquelas plagas, em se falando de cerveja. A gama de refrigerantes também entrara pra valer. Em São Luís, capital, havia uma fábrica de “Cola Jesus” um líquido levemente colorido, adocicado, que era o refrigerante ofertado ao consumo. Fizeram até uma piada: Olha a Coca, cola... A Pepsi cola..., mas a Cola Jesus, não cola. Bom que se diga que não houve “fisiologismo” por parte dos administradores da agência. Nobre adorava desafios e era amplamente contrário a qualquer monopólio.

            
          Dificuldades imensas, vasilhames, grades, localização, empregados, transporte, impostos, seguros..., mas o Miguel ia firme... Aqui e ali um financiamento de curto prazo, por nota promissória... pagava em dia, mas no outro fazia novo empréstimo. As vendas não satisfaziam; o povo só queria a concorrente, estava acostumado, era bom produto. O círculo de amizade da administração da agência aumentava diante da população bacabalense e na jurisdição. Geralmente saíam para jantar em grupo com clientes, colegas e amigos. Então fizeram um pacto: “... só jantaremos em local que também revenda produtos da Antarctica”. Martelo batido, ponta virada, como diz o provérbio. Quando se entrava num restaurante logo a pergunta se eles vendiam daquela marca. No começo quase todas as respostas eram negativas, mas quando a turma saía dizendo que iria jantar noutro lugar o comerciante passava a vender os produtos do Miguel. As vendas subiram, ele também. Os negócios estavam gigantescos, cresciam demais. De repente ele aparece com um “baita” armazém, inúmeros caminhões pesados, eis que passara a ser o representante de uma vasta zona. Será que tinha “cacife” para tanto? Trabalhava como um doido, de repente ia buscar, ele próprio, produtos em Goiânia (GO), pois Recife não mais suportava tantos pedidos.

           
           Muitas vezes é melhor um cadastro simples que não represente riquezas e tantas posses, mas que reflita a condição moral das pessoas, sua vontade ferrenha de crescer, de perseguir objetivos, notadamente quando se quer melhorar o padrão de vida da família. Era isso que aquele disposto comerciante queria conquistar.

            
          Com a sua transferência para Catolé do Rocha, na Paraíba, deixara o Nobre de acompanhar mais de perto a trajetória do amigo, mas nas três vezes que viajara àquela cidade de Bacabal pôde verificar que a firma continuava prosperando. Que bom!

            
          Decorrido todo esse tempo o contato foi perdido, a distância se encarregara disso como sempre ocorre. Dona Auxiliadora veio morar no Recife por conta dos estudos de seus filhos Dalvinha, Henrique e Ângela, todos com formação superior. A primeira, em Direito, hoje do Ministério Público, demonstrando toda a sua capacidade e talento no trato da Justiça. O Henrique é engenheiro de renome em Caruaru (PE) e Ângela seguindo os mesmos passos da Dra. Dalva.


Saudade dos velhos tempos.

A foto é de uma turma de amigos do Miguel num dia de carnaval, o primeiro agachado da esquerda para a direita.

Por hoje é só.
Grato pelos comentários e sugestões.
Até o próximo.
Ansilgus
ansilgus
Enviado por ansilgus em 27/05/2012
Reeditado em 27/05/2012
Código do texto: T3690203
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