Vida de Borboleta

Certa vez, a mãe decidiu levar as suas filhas para conhecer a cidade onde passou boa parte de sua vida. Além das meninas, a moça também estava acompanhada de seu pai, o avô das meninas.

A cidade localizava-se no interior do estado de Góias. Levaram horas para chegar até lá. Viajaram à noite. Uma viagem longa e cansativa. A localidade era pequena, mas possuía uma certa riqueza. Além do plantio de soja e entre outros cereais, a cidade também lucrava às custas de uma criação da natureza que lhe deu nome: cristais.

Chegaram ao destino ainda sem o acordar do sol. O seu tio mais velho foi o responsável pela recepção. Enquanto todos estavam distraídos pela boa recepção e pelos velhos ares, a filha mais velha ainda estranhava o fuso horário e pensava: "será que vou conseguir passar uma semana aqui?"

A casa do tio era enorme. Havia um grande gramado onde as duas crianças brincavam para se desprenderem do tédio. No entanto, era uma casa vazia. Moravam apenas o tio e sua esposa, pois suas filhas já estavam adultas e casadas. Havia vários quartos e salas, e em um deles, tinha um piano. Suas teclas amareladas e os buracos de cupim eram as provas de sua velhice.

Como estavam na capital do cristal, não poderiam deixar de conferir o seu comércio. A tia se ofereceu para os acompanhar. Ela disse: "Irei com vocês, pois todos já me conhecem aqui. Se eles perceberem que vocês são turistas, vão cobrar mais caro!". Pois bem, lá foram todos.

Eram várias lojas de pedras preciosas. A mãe, como boa geógrafa, tinha que conferir todas e levar o maior número de relíqueas. A filha mais nova fazia questão de comprar todas as jóias em forma de bichos. Já a mais velha estava sem paciência, nem olhava direito, queria ir para casa logo. Mas não para a casa onde estava hospedada.

Em uma das lojas, enquanto a mãe se preocupava com as jóias, algo finalmente chamou a atenção da filha. A menina mais velha avistou uma moldura diferente. Por trás de seu vidro, havia uma linda borboleta colorida.

"- Mãe, olha! Olha! Que linda!", disse a menina apontando para a borboleta.

"-É bonita mesmo! Mas coitadinha da borboleta! Será que já tinha morrido ou a mataram para fazer isso?", indagou a mãe.

Percebendo o alvoroço perante à vitrine das borboletas, a atendente se incluiu na conversa.

"-Elas são criadas para isso. Elas possuem um curto período de vida. Assim que morrem naturalmente, nós as pegamos e as preservamos."

A menina arregalava os olhos de curiosidade.

" - E quanto tempo elas vivem?"

" - Elas vivem apenas aproximadamente uma semana. Mas isso para as borboletas é como viver a eternidade!", disse a atendente.

Aquelas últimas palavras tocaram profundamente a pequena menina. "Como assim? Uma semana? E para elas, isso é muito?". A mente pequenina era rodeada de perguntas que nem mesmo a moça da loja poderia responder com precisão. "Elas sabem que vão morrer logo? Elas são felizes com isso?"

A mocinha percebeu que o tempo não é igual para todos.Cada um sabe como viver o seu devido tempo, assim como o fuso horário. Aquela semana poderia ser tortuosa para ela devido à sua impaciência. Mas para seu avô e para sua mãe, poderia ser a melhor semana de todas, por estar matando as saudades. Ou mesmo naqueles dias, alguma borboleta poderia estar dizendo "olá" à vida ou apenas "adeus".

Assim como os humanos, as borboletas não sabem quanto tempo vão viver. Cada dia é feito de momentos que constroem o sentimento de eternidade. Segundos e minutos não são nada comparados aos fatos que dão sentido a uma vida, mesmo que seja a vida do ser mais pequenino da natureza.