A Triste Rua Deserta
Há muito tempo atrás, em uma cidadezinha distante, existia uma rua muito deserta onde se passavam poucos carros e poucas pessoas. Perto desta rua havia uma ponte muito alta. Uma garotinha brincava na rua todos os dias, e sempre quando cansava, sentava em um banco e olhava as minguadas pessoas passando na rua.
O curioso é que, sempre que ela se sentava para descansar, passavam-se alguns minutos e um homem jovem passava na rua, em direção a ponte. E todas as vezes, a garotinha acenava e sorria para o homem, que retribuía com um sorriso triste e infeliz. Porém, sempre que ele chegava perto da ponte, ficava um pouco parado e depois voltava, indo para casa, e desta vez, sorrindo (ainda que tristemente) para a menininha.
Porém, certa vez, houve um incidente na casa da garota. Sem querer, ela derrubara um vaso que se espatifou no chão, fazendo muita sujeira. A mãe da garota ficou muito nervosa, colocando-a de castigo e lhe dando uma surra que marcou seu rosto. No outro dia, tudo foi diferente.
Sentada no banco, furiosa com sua mãe e com todos, a garotinha resolveu não brincar aquele dia. Como sempre, dali a alguns minutos, o mesmo homem que passava na rua todos os dias, apareceu. Ele estava com um aspecto diferente, ainda mais triste, e com roupas velhas e desgastadas. Olhou para a garotinha, sorrindo esperançoso. A garota, porém, estando muito brava com sua mãe pela injustiça cometida com ela, virou o rosto para o homem, sequer olhando em seus olhos.
Se ela tivesse olhado, e visto as lágrimas que desabavam pelo seu rosto, talvez teria sorrido para o homem, e nada de ruim teria acontecido. Ele simplesmente iria até a ponte, e voltaria de novo, como todos os dias. Mas o fato é que desta vez, ele continuou o seu caminho para a ponte.
Chegando na ponte, o homem parecia desesperado e tranqüilo ao mesmo tempo. A garotinha o observava de longe, sentada em seu banco. O problema foi que ninguém pode fazer nada quando o homem subiu em cima do muro da ponte, ergueu os braços para o alto, e se atirou no precipício.
A pobre garotinha, depois disso, nunca mais saiu para brincar, tampouco ficar sentada olhando as pessoas passarem. Ela se tornou um pouco triste depois desse incidente. A rua deserta se tornou ainda mais deserta. Mal ela sabia, mas o sorriso que mostrava ao homem todos os dias era o que dava forças para não seguir em frente. Chegando na beira da ponte, quase se encontrando, abraçando a Morte, ele se lembrava do sorriso da garota, e que alguém ainda olhava para ele (e não através dele), se importava com ele, mesmo que fosse somente um sorriso, e voltava para casa.
Mas naquele dia tudo foi diferente.