Compaixão (Parte 1)
Sexta-feira de outono, final de expediente. Eu juntava minhas coisas e me preparava para ir para casa. O tempo tinha fechado no meio da tarde, mas por sorte eu estava preparado pois havia levado um guarda-chuva. Após me despedir dos colegas, saí do escritório e olhei para o céu. Estava nublado, mas era possível perceber alguns filetes de luz do sol por detrás das nuvens no horizonte. Comecei a caminhar lentamente, tinha sido um dia cansativo, com diversos assuntos sérios para tratar e alguns entreveros com meu chefe. Mas nada disso me abalava, eu sabia lidar com todo tipo de pessoa e já tinha aprendido muito sobre a personalidade intransigente dele. Deixando os pensamentos sobre o trabalho de lado, pus-me a caminhar mais depressa após ouvir o som de alguns trovões. Minha casa não era muito longe do escritório, essa era a razão de eu preferir ir a pé para o trabalho.
Atravessei algumas ruas e, ao passar em frente à praça principal da cidade, parei numa banca para comprar chicletes. Por esse motivo, acabei saindo de lá cheio de moedas. Sempre odiei moedas, achava-as barulhentas demais e por isso não gostava de carregá-las. Atravessei a praça devagar, pois me fazia bem olhar as crianças brincando ao redor das árvores. Isso fazia eu recordar dos bons tempos de infância.
Há algumas quadras de casa avistei de longe um senhor negro, magro, sentado na calçada, com as costas apoiadas na parede de um prédio. Era um senhor que eu sempre via caminhando sem rumo por aquela parte da cidade. Fiquei observando de longe, ele mal se mexia. Seu boné, virado de cabeça para baixo, era uma solicitação de ajuda à população. Talvez quisesse comprar apenas um pão para não dormir com a barriga doendo de fome aquela noite. Imaginei as inúmeras possibilidades que levariam uma pessoa a essa situação. Enquanto rumava em direção ao senhor, preparei as moedas que havia recebido de troco para depositá-las no boné dele. E, ao me aproximar, percebi que havia lágrimas escorrendo de seus olhos. Coloquei as moedas para ele e ouvi sua voz, embargada, agradecendo. Meu coração bateu mais forte naquele momento, senti que devia fazer algo a mais do que apenas oferecer-lhe esmola. Então resolvi perguntar qual seria a razão de seu choro. Ele me olhou, como se não acreditasse naquilo que ouvia. Certamente estranhava o fato de um desconhecido se importar com suas emoções. Lentamente enxugou as lágrimas com a manga de seu paletó rasgado e sujo, assoou o nariz, pegou seu boné e sorriu para mim. Pude ver que eram poucos os dentes que ele ainda tinha. Ajeitou-se na calçada e, enquanto colocava no bolso do paletó as poucas moedas que arrecadara naquele dia, começou a, lentamente, me contar sua história:
=- Continua -=
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(Obs: Esta estória não foi revista, quaisquer eventuais erros ao longo do texto serão corrigidos após o mesmo ser finalizado).