Sob o olhar de um anjo
A pequena Elisa havia acabado de acordar, e estava ansiosa como nunca.
Afinal, não era todo dia que ela recebia visitas tão especiais, o que fazia com que ela muito agitada pensasse sem parar.
- Será que eles vão gostar de mim, vou fazer tudo certinho desta vez , eles têm que gostar de mim...
Elisa era uma garotinha órfã de seis anos de idade, já havia recebido visitas de casais interessados em adoção, mas a grande maioria das pessoas, tem como preferência adotar crianças menores e Elisa já estava grandinha.
Muito inteligente e cheia de vida, seus olhinhos sempre ativos enchiam de alegria quem os olhassem, mas sua idade um pouco acima da média das crianças que aguardam a adoção, era um doloroso impecílio em sua vida.
Ela já estava neste orfanato desde seus três aninhos, e a cada ano que passava via mais distante a possibilidade de conseguir um lar para morar, afinal seu maior desejo era simplesmente ter como qualquer outra criança, pais zelosos que a amassem.
A vida no orfanato não era ruim, as freiras que administravam o local eram amorosas e atenciosas, mas a menina sentia muita falta de uma família.
Elisa foi encaminhada ao orfanato com três anos de idade, porque seus pais muito carentes, moravam com a menina em um barraco de madeira na periferia da cidade.
Em uma noite de muito frio, sem que tivessem agasalhos e cobertas suficientes para se protegerem do rigoroso inverno, sua mãe colocou fogo em alguns papéis e pequenos pedaços de madeira para aquecer o ambiente, mas a proximidade com a garrafa de álcool acabou iniciando um incêndio que culminou na trágica morte de seus pais.
Socorrida a tempo por vizinhos, ela foi encaminhada com algumas queimaduras pelo corpo para tratamento em um hospital.
Como não haviam parentes próximos para que a acolhessem, a pobre menina foi encaminhada ao orfanato aguardando, desde então pela tão sonhada adoção.
O casal chegou para visitá-la e ela cheia de esperanças, foi apresentada aos interessados pela adoção..
- Esta é Elisa, nossa querida garotinha, tem seis anos de idade e uma doçura que é só dela – disse a amorosa irmã Tereza.
- Ela é muito linda - disse Marta, uma jovem senhora que não conseguira ter filhos.
- É mesmo, uma graça – confirmou o jovem esposo.
Após a entrevista de costume já sem a presença da garota, a freira perguntou ao casal sobre a impressão que tiveram da pequena garotinha.
- Nós gostamos muito dela, mas ela já é bem grandinha, e imaginávamos adotar uma criancinha bem mais jovem, que se adaptaria mais a nossa família - respondeu o rapaz.
- Elisa é muito educada, e está muito contente com a possibilidade de ser adotada, tenho certeza que não terão problemas com ela – disse a freira.
- Não sei amor, o que você acha?- indagou a esposa ao marido.
- Você é quem decide amor, afinal este é um sonho que você vem carregando a muito tempo.
- Pois bem, está decidido se for possível adotaremos então a pequena Elisa.
Elisa foi então comunicada do fato, e não contendo tamanha alegria, esperou ansiosa pelo dia em que seria levada para sua nova casa.
Mais de um ano se passou, e a pequena Elisa já estava adaptada á sua nova família, muito bem cuidada por sua mãe adotiva, ela estava sempre muito bem arrumada e seus modos sempre delicados, deixavam-na com a aparência de um pequeno querubim.
Em uma noite, quando seu pai adotivo chegara do trabalho, foi surpreendido por perigosos marginais que o ameaçaram e fizeram com que ele entrasse em sua casa.
Temendo por sua esposa e filha o rapaz tentou evitar em vão que os criminosos invadissem sua casa, sendo agredido com coronhadas de revolver que o fizeram perder os sentidos.
Elisa brincava em seu quartinho que ficava na parte superior da residência e ao perceber que algo estranho estava acontecendo, escondeu-se imediatamente debaixo de sua cama.
Enquanto isto, os ladrões já haviam amarrado seu pai a uma cadeira e amordaçado sua boca com fita adesiva, e haviam dominado também sua mãe adotiva, que desesperada implorava para que não machucassem a ninguém.
Aflita em seus pensamentos a jovem senhora, temia que eles subissem para o quarto de sua filha e a encontrassem, com medo que lhe fizessem algum mal.
Enquanto isso, escutando as conversas que vinham do piso inferior da residencia, e ouvindo as palavras aflitas de sua mãe, Elisa muito esperta e ágil decidiu se esgueirar pela janela do seu quarto, descendo por uma sacada existente até a casa de um vizinho.
Ao ser avisado pela menina que seus pais estavam sendo ameaçados por marginais, o vizinho acionou imediatamente a polícia que se deslocou para o local.
Enquanto isto na casa, um dos marginais já havia demonstrado interesse na jovem senhora, que era possuidora de uma beleza comum, mas muito bem cuidada.
Sentindo que não teria mais forças para reagir aos impulsos daquele fétido marginal, a jovem senhora clamava a Deus pela intervenção divina, como única forma de escapar de situação tão ameaçadora.
Neste instante ouve-se forte estrondo na porta da sala, e imediatamente vários policiais adentram ao local, rendendo os criminosos e libertando o jovem casal, que aliviados viram suas preces serem atendidas naquele momento.
A vida não havia colocado um filho biológico no seio daquela família, mas com certeza havia permitido que anos depois um pequeno anjo fosse por eles olhar, um pequeno querubim chamado Elisa.”