Little Sweet Pedro
A estrada da vida faz tantas curvas, sinuosas, simétricas, causando tantos acidentes...
A história de hoje começa no ano 1990, e nosso protagonista é Pedro. Pedro é um garotinho inocente e bondoso, divide com seus irmãos o pouco que tem e entende que os pais não podem comprar tudo o que este deseja.
Nosso herói não tem poderes superatômicos, nem qualquer coisa especial. É apenas um dos muitos seres humanos que sacrifica o pão pra que este dure por mais tempo, que nunca teve tudo o que quis, que é feliz com o que tem sem a ambição destruidora de passar por tudo e todos para conseguir o que quer.
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VOCÊ realmente esperava que a história fosse bonitinha assim? Se esperava aconselha-se que pare aqui. Esta é a história de muitos homens e mulheres que circulam por ai fazendo integração com a massa cinzenta que se alastra por entre os poros da humanidade.
Pedro sempre foi uma criatura má, não se importava com o sofrimento dos outros para conseguir o que lhe apetecia. Ainda pequeno, quando passava por uma loja de brinquedos seus olhinhos brilhavam maravilhados ao fitar a vitrine onde o carrinho de controle remoto encontrava-se impecavelmente exposto, na verdade era a mais pura ambição dando o ar da graça. Se os pais tentassem desviar sua atenção para outra coisa para que este esquecesse o brinquedo, estava feito o escândalo, suas lágrimas faziam os pais sacrificarem o que não tinham para comprar o que o moleque queria.
Já adolescente o foco de ambição mudou, agora Pedro desejava instrumentos musicais, CD’s, camisas de banda, fazia seus pais ficarem tristes a ponto de deixar de comprar pão para que pudesse comprar seu objeto de desejo, agora já quase um adulto este também vendia sorvetes para ter mais dinheiro para seus luxos, conseguia os mais incríveis objetos a preços módicos. Com seu carrinho de sorvete Pedro comprou, comprou tudo que queria, comprou até sua guitarra, comprou CD’s e se apaixonou completamente pelo bom e velho rock n’roll, AC/DC virou figurinha carimbada em suas vestimentas. Esforçou-se e aprendeu sozinho a tocar guitarra, montou uma banda a qual eu cheguei a fazer parte, fez shows e encantou o pequeno público e os poucos fãs. E nem mesmo o rock foi capaz de abrir a cabeça do nosso menino.
Anos se passaram entre estes acontecimentos, e sua adolescência havia chegado ao fim. Era chegado o momento de se dedicar ao futuro, nosso herói era inteligente e sempre obteve boas notas no colégio. Prestou vestibular em uma faculdade pública onde passou sem grandes dificuldades, agora este se encontrava matriculado no curso de direito da UFSC. De família humilde, Pedro que morava em cidade pequena teve que partir para a capital, lá encontrou o primeiro emprego que procurou e passou a morar em uma república onde dividia o quarto com mais 3 colegas, durante o dia Pedro trabalhava de vendedor em uma loja de instrumentos musicais, à noite ia pra faculdade e quando chegava em casa ficava lendo por aproximadamente uma hora antes de pegar no sono.
O salário que Pedro ganhava era modesto e este já não conseguia quitar suas despesas então passou a fazer trabalhos da faculdade para quem não tinha tempo, inteligência ou disposição. Seus horários eram apertados, se tomava banho não comia, se comia não se arrumava, mas Pedro sobreviveu desta maneira por 2 anos, e nestes 2 anos conseguiu manter as médias exemplares sendo o melhor aluno da classe.
Já no 3º ano, seu professor que havia se tornado seu melhor amigo sabia de sua situação e propôs que Pedro trabalhasse em seu escritório, nosso herói que não se encontrava em boa situação financeira aceitou. Trabalhava menos, ganhava o dobro e em troca oferecia sua honestidade, a única coisa que ainda tinha de bom. Pedro era ainda o melhor aluno da classe e ao mesmo tempo o mais temido por seus colegas, era ainda membro da minha banda mas não se encaixava nela pois vivia o que não amava e sim o que lhe foi imposto. Pedro deixou a guitarra, trocou AC/DC por código penal e sua roupa confortável por terno e gravata, seu all star por sapatos Fernando Pires, sua honestidade por dinheiro e sua simplicidade por arrogância. Eu nem sei pelo que fui trocada, acho que eu simplesmente deixei de ter importância e fui deixada de lado, como uma lembrança do passado vergonhoso que mais tarde ele tentaria de todas as maneiras apagar.
A ambição fez dele um monstro. Sua diversão hoje é ficar na frente de uma pilha extensa de papéis, é defender o culpado e ganhar a causa pondo o inocente na cadeia, é tirar o único pedaço de pão da família pobre semelhante à que ele já fez parte um dia. Evita sua família, pois tem vergonha de onde veio, do que e de como eles são, sua família é a roda social a que ele pertence. Sua motivação é o dinheiro e seu orgulho é a destruição dos inocentes.