O "jacaré" de Drim
O fato que narrarei agora aconteceu com um menino chamado Drim. Ele jamais se esquecera do episódio e vocês verão por quê.
Certa vez, Drim brincava na praia com seus primos menores quando viu algo que chamou sua atenção. Era Júnior, um de seus primos mais velhos, pegando um “jacaré” sobre as ondas.
“Jacaré” era como se chamava o surfe sem prancha, com o próprio corpo. A pessoa ficava esperando a onda “boa”, nadava até a sua crista e quando ela “quebrava”, ia embora junto com ela. Era muito gostoso pegar um “jacaré”. O problema era que Drim só tinha oito anos quando resolveu pegar o primeiro.
Inspirado no primo mais velho, Drim, que já nadava razoavelmente bem, caiu n’água em direção à arrebentação. O mar estava de ressaca devido ao temporal que havia caído na noite anterior.
Ao longo da praia, podiam-se ver várias placas vermelhas com a inscrição “PERIGO” em letras brancas, indicando correntes e buracos. Drim nem imaginava, mas estava prestes a cair em um deles.
Quando estava nadando para as ondas, lembrou-se de uma recomendação de seu pai:
“No mar, a água nunca deve passar do limite da cintura! Se você cair numa corrente, poderá fincar os pés na areia e se salvar. Agora, se você não tiver o apoio dos pés, já era!”
Drim respeitava muito o seu pai, por isso não passou desse limite, mas como que as ondas só chegassem “estouradas” até ele, pensou:
“Vou ter que ir um pouco mais à frente, se quiser pegá-las antes de arrebentarem”, e foi.
Em instantes, já não conseguia mais por os pés no chão. Estava em uma espécie de lago, onde não havia mais ondas. A praia estava ficando cada vez mais longe. Quanto mais tentava nadar em direção à praia, mais distante ficava dela.
Enquanto isso, na praia, dona Vilma e Sr. Onofre estavam desesperados.
Avisados pelos primos sobre onde seu filho estava, nada podiam fazer, pois não sabiam nadar. Gritavam pelos salva-vidas, mas não havia nenhum por ali naquele instante.
Júnior disse que Drim devia ter caído num buraco e, depois, numa corrente. Ele sabia nadar, mas Drim estava muito distante e, se fosse tentar salvá-lo, também correria perigo.
Tio Eduardo saiu às pressas para ligar para um amigo que tinha uma lancha. Talvez ele pudesse ir atrás de Drim e socorrê-lo.
Nesta altura, Drim estava em pânico. Ele havia realmente caído em uma corrente. A água não estava mais calma e as marolas o jogavam de um lado para o outro.
De vez em quando, uma onda enorme estourava bem em cima dele, quase o afogando. Tentava nadar para a praia, mas não saía do lugar. Quando estava quase desistindo, viu uma cena da qual nunca mais se esqueceu.
Era uma espécie de caveira, com cabelos loiros e de óculos escuros, mordendo uma prancha de surfe.
Não... Drim não estava delirando. Essa era a imagem que estava desenhada na parte dianteira da prancha de Fia, um surfista que estava perto dali e vira o menino em desespero.
_Calma aí, moleque! Segure-se na parte de trás da prancha e bata os pés quando eu mandar!-ordenou Fia e Drim nem pensava em desobedecê-lo.
Quando ia segurar na prancha, uma onda, que podia ter vindo do Havaí, de tão grande, explodiu sobre eles.
Drim afundou feio e, enquanto voltava em meio a borbulhas e espuma, não viu mais Fia.
_Surfista! Surfista! Pra onde você foi? Socorro!-gritou, num súbito ataque de desespero.
De repente, sentiu algo tocar a sua nuca. Era a prancha de Fia novamente.
_Vamos moleque! É agora! Agarra a prancha!
E Fia começou a remar em direção à praia, enquanto Drim, agarrado à prancha, batia as pernas alucinadamente. Em alguns segundos já haviam saído da corrente. Quando chegaram à praia, uma multidão estava lá a esperá-los. Todos comemoravam o ato heróico de Fia e a coragem de Drim.
_Pedrinho! Pedrinho! Oh, meu Deus, obrigada!-agradecia dona Vilma aos berros, enquanto chacoalhava Drim.
_Ei, Pedrim! Você quase nos mata, meu filho!-disse Sr. Onofre quase chorando. _Como você fez uma coisa destas?
_Desculpe pa... papai, des... desculpe mamãe. Nu... nunca mais vou fazer isso.-gaguejou Drim, ainda trêmulo de adrenalina.
_Muito obrigado, garoto! Não sei o que ia ser do meu filho se não fosse você! Toma um trocado!-agradeceu Sr. Onofre, puxando uma nota de R$ 10,00 do bolso de sua bermuda e a entregando a Fia.
_Que é isso, senhor. Não foi nada. -Fia não disfarçou sua felicidade ao receber o agrado.
_Valeu mesmo! Você me salvou! Qual é o seu nome?-quis saber Drim, agradecido.
_É Florentino... mas pode me chamar de Fia. Já vou indo. Minha mãe tá me esperando pro rango! E tome mais cuidado, moleque! Essas águas são um perigo depois de uma tempestade como a de ontem. -advertiu Fia, já se afastando.
_Pode deixar, Fia! Tomarei. A gente se vê!-despediu-se Drim, abraçado a seus pais.
_O que aconteceu? Drim! Você está a salvo! Graças a Deus! Mas como? Algum salva-vidas apareceu? –grasnava tio Eduardo, que voltara sem conseguir falar com o amigo e parecia um inquérito policial ambulante.
_Calma, Eduardo! Já está tudo resolvido! Um surfista caiçara o salvou! –explicou Sr. Onofre, tentando acalmar o melodramático titio.
_Se é assim, vou procurar os pais do garoto amanhã! Precisamos recompensá-los!
_Não precisa, Eduardo! Já dei dez mangos a ele.
_Não acredito, Onofre! Como você é pão-duro! –bradou tio Eduardo, antes de dizer que o menino merecia, no mínimo, um carro, por ter salvado a vida de Drim.
_Não exagera, Eduardo! Além do mais, ele nem deve saber dirigir...
Trecho do livro "O Tormento", de minha autoria.