DUAS VEZES TRAIÇÃO

O sol ainda escalava a montanha, quando de súbito, Maria Helena levantou da cama, correndo de um lado para o outro, se arrumando num ritmo louco, preparando-se para o trabalho, sem lembrar que era o prelúdio do final de semana. Estranhou a tranqüilidade do marido que se deleitava, com seu sono sem se preocupar com a hora, que a seu favor jogava. Tentou voltar para cama, mas agora se achava por, demais acordada, então começou a cuidar da casa, que é a sua parte dupla da jornada. Seu marido Afrânio, da cama não largava, o relógio da manhã nove horas marcava, ele de hora em hora ressonava, o café da manhã sobre a mesa já esfriava. Maria Helena separava as roupas para serem lavadas, toalhas com toalhas, lençóis, fronhas e cobertas brancas e estampadas, roupas finas, camisas e fardas, com cuidado ela verificava as manchas, as peças a serem costuradas, esvaziava os bolsos, algumas peças do anverso virava, até que parou derrepente, ficou azul de assustada, da cor da calça que estava para ser lavada. Num dos bolsos, uma nota fiscal de compra de matérias eróticos, o marido levava, nesta fatídica nota de compra tudo constava, quantidade, data, hora e o bairro onde o traidor fora, pensou a mulher que dos olhos as lágrimas agora aflorava. Afrânio sempre foi bom de cama, deita, dorme e dorme muito, nunca foi um homem de preliminares, fantasias e prelúdios, cumpria suas obrigações conjugais como muito se faz e dormia contrito o sono dos justos. Final de semana que antecede o carnaval, Maria Helena agora só maquina a vingança, pensa em que horas vai esconder a aliança, a tal nota é fato não ha esperança, a traição para ela trazia uma dor mortal, que alimentava seu ódio, cogitava até matar o cônjuge que agora a seus sonhos destrói. Afrânio levanta macilento, não nota nada de diferente apenas acha o dia um tanto cinzento, abre o jornal, toma um belo café e segue sua rotina de fim de semana normal, sem notar que nada estava legal, Maria Helena foi discreta com o amado mesmo saboreando um ódio mortal. Pensou em abordá-lo, cobrar-lhe satisfação, abandona-lo e até mesmo arrancar-lhe o coração, mas sucumbiu a tentação de pagar traição com traição, sendo o carnaval uma boa ocasião. Pro marido deu um vale nayte o que nada entendeu o rapaz, daí viveu todas as fantasiais, de periguete a colombina, foi muito peralta a menina, se entregou as delicias do carnaval sem nenhum pudor, arlequim, pirata, marinheiro, o padeiro, o eletricista, um garagista, o pierrô, sim de tudo ela provou, alimentando a traição que tanta dor lhe causou. Afrânio na casa mãe a maioria do tempo ficou, mas surpreso pela televisão sentiu a faca afiada da traição que a sua mulher amolou, antes das cinzas, terça-feira de madrugada, Maria Helena em close, enquadrada, boca com boca colada, por um colar amarrada, com um gandy tendo de fundo os sons de atabaque e agogô. Já diz o ditado “quem com ferro fere com o ferro...”? no entanto coitado do marido, que por duas vezes foi traído, por que dias antes do acontecido, a nota fiscal foi plantada no seu bolso de brincadeira, por um amigo... de trabalho, que se preparava para uma orgia daquelas que nem te falo. Ingênuo Afrânio que não tinha nada a esconder, não se deu conta de tudo de ruim que veio a suceder, por Maria Helena até hoje vive a sofrer e ela por sua vez não da o braço a torcer. Coisas da vida, e o que acha você?