ALÉM DO RÓTULO

Sentiu quando o carro parou. Logo depois viu quando alguém abriu a mala onde estava. "Sai!" foi a ordem que ouviu de uma voz grave e calma. Não tinha mais noção do tempo que passara "passeando" naquele carro preto, desde que fora rendido por três homens na esquina da rua da comunidade. Só sabia que em minutos, estaria morto. Afinal, a vida que escolheu, passava por tais "coisas".

Há cinco anos, Jorginho, como era conhecido, enveredara no caminho das drogas. Com o tempo, para sustentar o vicio, passou a traficar; até que recebeu o convite para ingressar na organização do "movimento".

Curtiu, gastou, matou, traiu, ignorou, mudou e agora, bem agora, estava alí, ajoelhado, com um capuz na cabeça, sentindo o cano frio de uma arma encostar: "O fim" sentiu. Num breve momento, pensou na mãe, Dona Filomena, sentiu a dor de não ouvi-la; Pensou também nas vezes que riu dos amigos, que o aconselharam a mudar: "Trabalhar, é pra quem não quer ficar rico" falava. Lembrou dos sonhos de infância, quando pensava em ser piloto de avião.

Agora, não tinha mais o tempo a seu favor, apesar dos vinte e poucos anos. Tempo para rever a avó, dona Celestina, os irmãos, Luiz e André... Tempo para cantar a vida e sentir a brisa do vento da praia. Não tinha mais....

Sentiu o cano pressionar mais a área da nuca e chorou o momento de não poder mais se arrepender.