Saudade do mar
A trilha, que vinha da rua, saía bem no meio da praia, de onde se tinha uma vista privilegiada.
À esquerda, era possível se ver “as Ilhas”. Três ilhas triangularmente posicionadas, com uma magnífica piscina natural, de cor azul-esverdeada, bem no meio delas. Um paraíso para mergulhadores e praticantes de pesca submarina.
Mais à direita, bem ao fundo, o majestoso “Montão do Trigo” aparecia em meio às tenras nuvens de verão. Era uma enorme ilha, bem alta, como se fosse uma colina. De longe, parecia até mesmo um vulcão. Era um símbolo da região e parecia estar protegendo as águas daquele lugar. Era possível encontrar seu nome em vários bares e restaurantes das redondezas, tanto nas fachadas como nos cardápios.
Mais à direita ainda, uma pequena ilhota de pedra, na qual podia se chegar nadando, trazia deleite aos aventureiros de plantão.
Naquele momento, a vista era mais deslumbrante ainda, pois o sol se punha no horizonte, propiciando às águas uma infinita escala de tons áureos e fazendo com que o céu se perdesse em um magnífico escarlate.
E eu estava lá, todas as tardes, assistindo a esse espetáculo da mãe-natureza. Era impossível para mim, naquele momento, ao menos cogitar a possibilidade de viver sem aquilo.
Imaginava, naqueles tempos, que jamais sobreviveria sem aquele lugar; e ele, sem mim.
Hoje, cá estou. Duas décadas sem mar...ainda vivo! E pasmem, o mar também!
Trecho do livro "Cárcere Privativo" de minha autoria.