DEZOITO ANOS...

DEZOITO ANOS

Por Sandra Hasmann

Os primeiros raios de sol entram pela fresta da janela de meu quarto, ao mesmo tempo em que ouço som de vozes vindas da entrada de minha casa, logo abaixo de minha janela, e penso com meus botões:

“- Mas como é possível prosseguir dormindo com um barulho desses?! Poxa, hoje é sábado, tive uma semana daquelas... SILENCIO gente, me deixa dormir mais um pouco!!”

Mas o vozerio parecia não ter fim, aliás, prestando melhor atenção, me dei conta de que se tratava de uma discussão! Imediatamente me levantei e coloquei-me estrategicamente próxima a janela, entreabrindo-a o suficiente p/ tornar os sons que vinham lá de fora mais audíveis, e pus-me a escutar...

_” Mas de quem pode ser essa carta, nesse envelope tão grande? Correspondências anônimas nunca me cheiraram muito bem! Acho que vou abrir...”- falou Jacira, prima de nossa fiel escudeira Regina, que está em casa desde que eu tinha 4 meses de idade...

_ "Nada disso, sua maluca! Pode não ter remetente, mas tem destinatário. Esse envelope é para a Ma e pra ela vou levá-lo agora"!

_ “Mas...”

_ “Sem mas nem menos!”

Uma correspondência anônima p/ mim? Quem terá enviado? Aliás, a troco de que me enviariam uma correspondência anônima? Vai que é de algum bandido, e sabe-se lá o que pode conter tal envelope!! (Meu Deus, vivemos um tempo de tanta violência que um simples envelope anônimo já nos faz “viajar” por entre as mais mirabolantes possibilidades... Haja imaginação!!).

Enfim, o tal envelope me foi entregue pela Regina, junto com seus efusivos cumprimentos pelo meu décimo oitavo aniversário.

_ “Parece que foi ontem que te peguei no colo, tão pequenina, para dar papinha e fazer arrotar... E agora aí está você, uma moça linda, já com dezoito anos. Ai, vou chorar...”

“-Não, Regina, segura essas lágrimas senão vai ser um chororó geral, e já que hoje é meu aniversário, quero mais é muita alegria e comemoração, certo? Que tal começar por um café da manhã bem gostoso, aqui, na cama?” - eu disse, dando uma piscadinha pra essa pessoa tão querida, que sempre esteve por perto, me paparicando, sempre preocupada com meu bem estar.

-“Ma, comprei um presentinho pra você, espero que não repare na simplicidade. Como sei que você gosta do Tom Jobim, achei que gostaria desse CD de musicas dele...”

Tom Jobim?! Quem me conhece já deve imaginar minha reação. Dei saltos de alegria! Abracei Regina com força, agradeci muito e, cheia de dengo, cobrei o café da manhã digno de um aniversário de dezoito anos, coisa que ela tratou de atender prontamente, correndo em direção a cozinha. E eu corri p/ minha cama onde me sentei para abrir o tal envelope, coisa que fiz bem lentamente, com a mente a mil, N conjecturas acerca da natureza de tal correspondência. Abri com cuidado, e dele tirei uma folha de papel em branco com um bilhetinho preso a ela por um clipe, no qual estava escrito:

_ “QUE ESSA SEJA A PRIMEIRA PAGINA DO SEU DIÁRIO, ONDE DORAVANTE ANOTARÁ A REALIZAÇÃO DE TODOS OS SONHOS QUE UM DIA OUSOU SONHAR, TORNANDO-OS TODOS REALIDADES MÁGICAS, MARAVILHOSAS, PLENAS EM SIGNIFICADO E VALOR”.

Um diário! Nunca fiz um diário, e agora me via quase que intimada a fazê-lo, e o que era mais significativo: a fazê-lo enquanto uma pessoa vitoriosa! Um desafio e tanto...

Deixei a folha em branco e o bilhete de lado e meti a mão dentro do envelope em busca de algo mais que, porventura, estive lá dentro, e com surpresa retirei uma foto já conhecida por mim, pois nela estavam todos os membros dessa minha linda e amada família, ou seja, meus avós maternos, minha mãe com meu padrasto e minha irmãzinha, minhas duas tias maternas com seus maridos e filhos, e, é claro, eu. A emoção foi imensa porque, para mim, aquela foto da família tão querida, cujos membros sempre foram tão presentes em minha vida, sempre foi um símbolo de união, amor, fidelidade, companheirismo, cumplicidade, porto seguro, modelo a ser seguido, e entendi que esse era o recado: jamais perder esse modelo de vista, cultivando os valores que construíram e mantiveram essa família assim, tão linda abençoada.

Chorei, de emoção, gratidão, alegria...

Mais tarde teve festa surpresa, e, como não poderia deixar de ser, ganhei também um lindo diário entre muitos outros presentes lindos. Foi uma data memorável, da qual jamais me esquecerei.

Sandra Hasmann
Enviado por Sandra Hasmann em 08/05/2012
Código do texto: T3656752
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