Quando eu era pequeno

Quando eu era pequeno, morava na vizinhança um menino chamado Idalêncio. Nos dias de hoje, já está convencionado que, pessoas como Idalêncio sejam classificadas como “especial”. Na época, não sei se ainda é assim, para se obter um benefício da previdência um médico bastaria atestar que tal pessoa era especial – em linguagem popular de antigamente: Era conhecido como atestado de louco. A mãe de Idalêncio, Dona Maricota vivia buscando, em virtude da “doença” do filho, um benefício da previdência. A grande dificuldade estava em conseguir que um médico lhe desse o bendito atestado, não tinha nenhum disposto a se comprometer. Dona Maricota não tinha mais o que fazer para provar que seu filho era especial “louco” até que resolveu tomar uma medida desesperadora e inusitada: levava o guri para a fila do INAMPS e quando um médico psiquiatra aparecia ela gritava – agora Idalêncio! O coitado do guri, estivesse onde estivesse, jogava-se ao chão e simulava que estava tendo convulsões, tudo para sensibilizar os médicos. Após três tentativas do – agora Idalêncio! – ele machucou-se seriamente quando sua mãe deu o grito e ele precipitou-se numa escadaria, quebrando algumas costelas e tirando a rodela do joelho fora do lugar. O susto foi tanto que a Dona Maricota deixou de lado a intenção do benefício. Por muito tempo no bairro a gente continuou brincando, um com o outro de – Agora idalêncio!

Robak Barros
Enviado por Robak Barros em 07/05/2012
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