Bob Saiu de Férias
 
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Bob é um sujeito sistemático, metódico. Todos os dias vem trabalhar no hotel, no mesmo horário, com a mesma pasta sob o braço, com o mesmo...mesmo tudo, tudo sempre igual. Faz isto há muito tempo, mais de vinte anos. Em sua mesa de trabalho, tudo está sempre no mesmo lugar, sempre do lado certo. O que muda de lugar, logo a seguir volta para o lugar de onde saiu. Bob tem algumas angústias, mas sempre são as mesmas angústias. Um pouco de depressão, um vago sentimento de solidão e incerteza, um certo medo de coisas indefinidas. Mas vai vivendo. Não tem paixões, nem por mulheres e nem homens. Sem querer ofender, é assexuado. Espero que não seja politicamente incorreto chamar alguém de assexuado pois não quero ser incorreto com o Bob. Afinal, ele, entre outras coisas, é muito correto. Não faz nada de errado no trabalho. Bom, ele também não gosta de tirar férias. Vai acumulando, acumulando. Bom, chega um dia e ele é obrigado a tirar férias. Existem normas,regulamentos. Desta vez ele teve de programar a sua ausência. Programar, ele sabe, é o que mais faz na vida. Pressionado pelo chefe, programou as férias. Não é  que você está pensando. Ele nem sequer pensou em viajar ou ir para algum lugar. Programar as férias é marcar o dia de sair e o dia de voltar, principalmente o dia de voltar. Um suplício, ficar em casa, esperando pelo dia da volta. Todos estavam esperando o dia de Bob começar as férias. E o dia chegou. Na próxima segunda, os intermináveis 15 dias iriam começar para Bob.  Por respeito, ficou combinado que ninguém iria usar sua mesa enquanto estivesse ausente. Para dizer a verdade, não era bem respeito, ninguém queria arriscar mexer em algo que não devia e depois ter que ver o Bob sofrer um colapso nervoso quando voltasse. A segunda-feira chegou. Um dia lindo, sol, e um céu de brigadeiro, como se falava antigamente. No escritório do hotel, tudo calmo, e as pessoas começam a chegar. Às 8:45 em ponto, pasmem, o Bob também chegou. Todo mundo se assustou. Talvez tivesse esquecido de algo. Alguma coisa importante que fosse precisar em casa, talvez sua agenda. Mas por que aquela roupa de trabalho? Ele não explicou nada. Chegou, sentou, começou a fazer tudo como fazia todos os dias. Ninguém ousou perguntar nada. O chefe, naquele dia, só viria depois das três da tarde. Será que o Bob tinha conseguido cancelar as férias? Impossível! O dia foi de fofocas. Faltavam duas horas para o dia de trabalho terminar quando o senhor Thompson, o chefe, chegou.  Iria virar à direita para ir até seu posto, quando sua vista aguçada alcançou o Bob. Virou rapidamente para a esquerda e se aproximou de Bob. Tiveram um diálogo rápido, um pouco agitado. Thompson saiu sacudindo a cabeça como que diz “Eu não acredito”...e foi para sua mesa. Lentamente, Bob foi arrumando suas coisas, guardando tudo metodicamente. Demorou tanto que praticamente saiu no horário em que teria de sair de qualquer jeito. A explicação, que na verdade todos já conheciam, era que Bob tinha “esquecido” das férias. Dá para acreditar? Esqueceu das férias. Eu não sei, embora desconfie, quais são as explicações psicológicas para o evento. Sei, no entanto, que um grupo de psicólogos levariam um dia todo discutindo o assunto...e iam adorar!

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