Eu apenas sorri.
A solidão era quem batia de portas em portas, em vindas e idas.... Mas, era inevitável não resistir às tentações das sobras que via por ali. O que era sobra para muitos, para mim era o essencial para poder me manter forte.
Apenas preenchia a escassez de um estômago sóbrio de fome. Mesmo que a alimentação não fosse saudável para os meios alimentícios, mas para mim era um sorriso. Não reclamava do que eu tinha, mas tão também não tinha orgulho pela vida que vivia.
Muitos me julgavam sem ao menos me conhecer, tinham nojo das minhas mãos e medo da minha presença. Como se eu fosse um mal; eu era apenas um homem de roupas simples, de estômago vazio, mas cheio de esperança e fé.
Na verdade, pouco sabia dos conceitos e aprofundamentos de religiões, mas sabia que existia algo diferente. Mesmo sendo sóbrio para muitos, via uma luz que um dia iria brilhar de vez em mim.
Mal sabia eu dos estudos que envolviam a filosofia e os parâmetros da política. Mal sabia eu dos contexto gerais.
Mas eu sabia de algo que era mais importante para mim: sabia que, mesmo que a sociedade não me visse como tal, eu representava algo de experiência e de luta.
Porque lutava bravamente, mas sem reclamar. Apenas vencia o dia-a-dia, o calor, a solidão, a falta de compreensão terrestre e a fome.
Quantas vezes dormi feito cachorro molhado sobre chuvas que batiam em meu telhado furado. Muitas vezes senti a loucura me dominar, minha mente se descontrolava, meu corpo perdia o equilíbrio e minhas pernas, a estrutura corporal.
A lucidez me deixava na escuridão das noites de ruas vazias e de frios congelantes. Quando via aquele papel rolando ao meio da rua e quando pegava aquele papelão como se fosse um cobertor.
Diante de tantas dificuldades, eu apenas sorri.
Renato F. Marques