Quando eu era pequeno

Quando eu era pequeno, meu amigo Rogério só gostava de ver filmes de lutas marciais, kung fú e coisas do gênero. Na escola a gente chegava para dar um aperto de mãos e ele lhe dava um karatê no pescoço ou outra parte do corpo. Ele era bem magrelo, os ossos apareciam e ele queria se mostrar musculoso, andava sempre com os botões da camisa abertos para mostrar o peito. Tinha os cabelos até o ombro. Certa vez ele desapareceu da escola por umas duas semanas e quando reapareceu o cabelo parecia uma vassoura velha toda esfarrapada e com muitas marcas de queimaduras pelo corpo. Até se esqueceu de me dar um karatê. Perguntei o que houve e ele contou que seu pai trabalhava na mina – mina de carvão – e na época a lanterna dos mineiros funcionava a base de carbureto – uma pedra que em contato com a água se transforma em gás. O gás do carbureto, se concentrado, é altamente explosivo. Então! Ele contou que estava dormindo quando seu pai chegou da mina com um pacote de carbureto velho – vencido, e querendo desfazer-se daquele produto foi até a “patente” – que era uma casinha de madeira separada da casa, onde as pessoas faziam as necessidades e despejou tudo no buraco. A noite quando o Rogério estava deitado começou a ouvir barulhos estranhos de coisas borbulhantes vindos da direção da patente. Tal qual “a curiosidade matou o gato” ele acendeu uma vela e foi ver o que era aquilo. Disse ele que quando abriu a porta com a vela na mão a patente parecia um foguete indo pra lua. Além da explosão, que lhe causou várias queimaduras, todo conteúdo daquele buraco, dejetos acumulados durante anos, projetou-se pelo terreno e atingiu até as casas vizinhas. O mau cheiro era tanto que no hospital ninguém chegava perto de mim. Só eu sei o quanto sofri! Disse-me ele.

Robak Barros
Enviado por Robak Barros em 04/05/2012
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